quarta-feira, 23 de agosto de 2017

E se eu fosse voluntário?...

QUEM GANHARIA COM ISSO?
No meu tempo!... Sim, é isso que não raras vezes ouvimos, mesmo a respeito do voluntariado. Fosse ele no associativismo cultural e desportivo, fosse no socorro e em catástrofes, fosse na saúde, fosse em que área fosse; não incluindo ainda as novas áreas de atividade voluntária, como o ambiente, a missionação, etc..

No meu tempo!... Ainda no meu tempo! Esclareça-se: no tempo que já passou. Não o de hoje. Até parece que não sou vivente hoje. Mas é assim e é assim que a maioria de nós se expressa quando não é capaz ou não quer entender, ou não quer enfrentar o que se chama: MUDANÇA.

Mudança! Muita mudança. Em mim. Em si. Na minha e na sua aldeia. No meu e no seu bairro. Na minha e na sua cidade. Enfim… E repito: mesmo a respeito do voluntariado. Voluntariado que em verdade, não é o que era. Não o é, pelas posturas pessoas e sociais a respeito…. Não o é, pelo enquadramento legislativo e pela assunção (ou recusa de…) de responsabilidades… Não o é, e muito mais importante ainda…. Quando se trata de colocar em equação, o trinómio: SERVIR ou SERVIR-ME ou SERVIR-SE?

De modo muito lindo (quase que me atreveria dizer: poético) a legislação que desde 1998 enquadra o voluntariado em Portugal (e honrado seja quem a preparou), para além de claramente se perceber que bebeu das muitas e muito boas fontes da prática e do conhecimento sobre aquele… ele, o enquadramento jurídico do voluntariado em Portugal, abre a possibilidade da promoção do voluntariado e o enquadramento de voluntários a inúmeras pessoas jurídicas (embora com nuances), incluindo as pessoas coletivas de direito público, do poder central, regional e local. Leia-se: Estado.

Porquê o Estado? O voluntariado e a sua prática são de iniciativa pessoal, comunitária. Emana de cada cidadão para ele sensibilizado e motivado. Tem iniciativa na sociedade civil organizada. Quer responder a realidades que requerem respostas rápidas, que podem não ser duradouras, mas têm que ser rápidas. Têm que ser prontas. Que são as primeiras e podem ser cruciais e insubstituíveis, para o sucesso das situações. Mesmo no campo da saúde, hospitalar, comunitária ou outra.

Considerando o voluntariado como o conjunto de ações de ajuda de pessoas a pessoas; e considerando como eu considero, que é vida e alma da sociedade civil; e que só aí faz sentido… que sentido faz a prática do voluntariado em contexto estatal? Exemplos: na cultura, na educação e na proteção civil (não bombeiros voluntários).

Concretizando na área estatal da cultura (monumentos, museus e palácios), vejamos: a “DGPC pretende incentivar a participação da sociedade civil no desenvolvimento das atividades e serviços (…)  proporcionando aos voluntários os benefícios de formação cultural e de desenvolvimento de competências, ao mesmo tempo que a possibilidade de integração em projetos institucionais de referência, sem prejuízo de experiências anteriores e em curso que reforçam a participação de voluntários nos espaços patrimoniais.” ([i])

E mais adiante “ser voluntário (…) da DGPC constitui uma oportunidade de excelência para participar em ações de salvaguarda do património (…) na aquisição de competências profissionais especializadas, na construção de oportunidades privilegiadas de aprendizagem, no desenvolvimento de competências comunicacionais, no contato direto com os agentes culturais e na participação em eventos culturais e sociais, dando a cada voluntário a possibilidade de conhecer por dentro o mundo da cultura e de se integrar numa comunidade ativa, criativa e dinâmica. Espera-se que o Voluntário dê a sua opinião sempre que achar necessário. As suas sugestões são indispensáveis para o sucesso deste projeto. A sua participação irá, por certo, fazer com que os espaços (…) da DGPC sejam cada vez mais locais aprazíveis em que os visitantes podem encontrar um acolhimento personalizado e eficaz.” ([ii]). 

Mais poderia continuar a citar a partir do documento que referencio em rodapé. Quanto a isso, por aqui me fico. Considerando os objetivos do voluntariado (ver a Lei 71/98)… que dizer? Somos portugueses e nem todos usamos pasta dentífrica Couto (antes medicinal). Não fiquemos “no meu tempo!” O meu, o seu, o nosso tempo é o tempo de hoje. É hoje que devemos estar de atalaia. Tratemos as coisas como devem ser tratadas. Chamemos os assuntos pelos seus nomes. Hoje, a prática do voluntariado serve a quem?
Porto, 23 de agosto de 2017, João António Pereira, presidente da Direção da Federação Nacional do Voluntariado em Saúde. Nota: o conteúdo deste blogue é da inteira responsabilidade do seu autor. Em nada implica o coletivo a que preside.

[i] www.patrimoniocultural.gov.pt / Carta do Voluntário de Monumentos, Museus, Palácios da DGPC.
[ii] Idem.

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