SEJAMOS AGENTES ATIVOS
NA CONSTRUÇÃO DE UMA SOCIEDADE NOVA!
Dom José Ornelas, Bispo de Setúbal |
Há dias em Fátima, em contexto da
peregrinação aniversária de setembro, o Bispo de Setúbal Dom José Ornelas de
Carvalho ([i]),
apelou aos participantes no ato, para que sejam “agentes ativos na construção de uma sociedade nova”; e
referindo-se aos refugiados, disse: “não
olhem com indiferença para os milhões de refugiados e miseráveis, que ficam à
margem das estradas da nossa sociedade. (…). Sejam portadores de vida, de
misericórdia para as vossas famílias e comunidades!”; (…) e sublinhou, para
além dos aspetos relativos à fé e à religião, a “importância da disponibilidade (…)” para a transformação da
sociedade, em gestos concretos.
Dom José continuou: “juntos sentimos a urgência (…) de empenhar-nos seriamente na eliminação
da guerra, da injustiça, da indiferença perante a miséria e os conflitos que
afligem milhões de pessoas em todo o planeta”; e afirmou ainda,
dirigindo-se aos presentes, dizendo-lhes que:
“não vivam apenas com saudades do passado (…) não tenham medo do mundo que muda
tão radical e rapidamente”.
Sobre as famílias e as situações dramáticas
que muitas delas vivem, Dom José disse que devemos dar: “espaço ao acolhimento, à solidariedade e ao encorajamento, à vida e à
ternura nas nossas famílias, nas suas horas felizes e, sobretudo, quando elas sentem
o peso das dificuldades e das crises”, apelou ainda elogiando, por outro
lado, o amor dos que até ao fim da vida “renovam,
com carinho, a alegre partilha do amor que guiou a sua existência”.
D. José Ornelas, quase a terminar, convidou
a uma mudança de relacionamentos, na família, na sociedade e na Igreja, onde “tantas vezes falta o vinho do amor, da
ternura, da solidariedade (…) da cordialidade, da atenção aos que sofrem a fome,
assim como a negligência e o abandono.”
E a nós, voluntários no campo da saúde, que
tem tudo o que disse Dom José Ornelas, a ver connosco? O que foi dito é forte.
É mesmo muito forte. E tem a ver connosco. Se cada um de nós quiser, é claro.
Logo de início apela-se à assunção do papel de agente ativo na construção de
uma sociedade nova. Mas a ação empenhada na vida da sociedade não é privilégio
de alguém em particular ou de algum grupo específico. É dever de cada um e de
todos os cidadãos, independentemente da sua “ascendência,
sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou
ideológicas, instrução, situação económica ou condição social.”; e “todos os cidadãos têm a mesma dignidade
social e são iguais perante a lei.”, e “ninguém
pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou
isento de qualquer dever” ([ii])
em razão do que acaba de ser enunciado.
Para os voluntários do campo da saúde, olhar com indiferença quem deles se abeira, não é a sua matriz, não é o que está no seu coração e na alma, não é o seu princípio
de atuação, nem é a sua prática diária. Quem se abeira dos voluntários, seja
nos hospitais, nos centros de saúde ou nas comunidades, sabe e conhece bem que
aqueles estão ali para atender, para acolher com solicitude, para ser recurso
de complemento de bem-fazer, de ajuda à cura e à promoção do bem-estar e à qualidade de vida - vida saudável.
Essas inúmeras pessoas, ajudadas e servidas
pelos voluntários do campo da saúde, como a tratada pelo “bom samaritano”, não são
só daquele e de todos os tempos, mas, e sobretudo, do tempo que é o nosso. Deste
tempo. Elas são refugiadas, elas são carenciadas económicas, físicas ou mentais,
doentes ou moribundas e outras. Elas são, como diz o Papa Francisco, as “periferias existenciais, onde há
sofrimento, solidão e degradação humana([iii])”.
São quem está “out” e não “in”. E são elas que de modo gritante nos apelam a que
não passemos ao lado sem fazer nada, a que, como o “bom samaritano”,
continuemos a preocupar-nos com os outros, que atuemos sempre a favor do bem; e
que ajudemos em qualquer circunstância, sem segundas intenções nem falsos interesses. Quem ama não cobra.
Somos muitos os que integram esta grande cruzada de fazer o bem, presente em muitas Unidades de Saúde do Serviço Nacional de Saúde e nas comunidades. Havemos de ser mais. Considerando o que disse Dom José Ornelas, juntos sentimos a urgência, mas a premência e a atualidade do empenhamento sério, não só com vista à eliminação da injustiça e da indiferença, mas também porque acreditamos que somos portadores de vida e de misericórdia ([iv]). Essa realidade pode, se quiserem, ser comparada ao “cálice que transborda” de alegria, de amor e de esperança, deixando a sua marca (positiva) quase sempre indelével em algum lugar ou em alguma pessoa.
Não tenhamos medo do mundo que muda tão
radical e rapidamente. Com alegria, partilhemos Amor que guia a nossa
existência e a nossa ação. Bem-haja voluntários da saúde!
Este blogue é da inteira responsabilidade do autor: - João António
Pereira, presidente da Direção da Federação Nacional de Voluntariado em Saúde. Não implica responsabilidade de qualquer outro membro do órgão citado. Porto, 17 de setembro de 2016.
[i] http://www.fatima.pt/pt/news/igreja-tem-de-estar-atenta-a-familias-em-situacoes-dramaticas-diz-bispo-de-setubal-em-fatima
[ii] Constituição da República Portuguesa,
artigo 13.º (Princípio da igualdade), Lisboa, 2001.
[iii] http://papa.cancaonova.com/francisco-convida-bispos-a-irem-as-periferias-existenciais/
[iv] Misericórdia é
um termo amplo que se refere a benevolência, perdão e bondade em
uma variedade de contextos éticos, religiosos, sociais e legais. In.: https://pt.wikipedia.org/wiki/Miseric%C3%B3rdia
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