“Lisboa
necessita todos os dias
da energia solidária das pessoas”
Em
jeito de balanço, João Afonso, vereador na Câmara Municipal de Lisboa
responsável pelo pelouro dos Direitos Sociais, explica como a capital, com o
seu reconhecido dinamismo nesta área, aprofundou, durante todo o ano de 2015
como fazer mais e melhor voluntariado.
Lisboa foi, durante 2015, Capital Europeia do Voluntariado. Como
surgiu o envolvimento da CML e o que levou à decisão de candidatar Lisboa a
esta iniciativa?
O
concurso que escolhe a Capital Europeia do Voluntariado tem critérios de
seleção alinhados com a Agenda Política Europeia para o Voluntariado, um
documento que resultou do Ano Europeu do Voluntariado (2011) e que estabelece
recomendações para o desenvolvimento do voluntariado no espaço europeu e nos
serviu de referência. A candidatura de Lisboa, feita a partir do trabalho feito
pelo Banco de Voluntariado do município, proporcionou, desde logo, uma reflexão
a nível interno sobre o ponto a que conseguimos chegar, mas, principalmente,
sobre o trabalho que ainda tínhamos, e temos, por desenvolver. Em segundo
lugar, o quadro de uma potencial Lisboa Capital Europeia do Voluntariado em
2015 proporcionaria melhores condições para desenvolvermos trabalho no domínio
do voluntariado e traria mais oportunidades às pessoas voluntárias e
organizações de voluntariado. Estas foram as razões para decidirmos candidatar
a cidade de Lisboa a Capital Europeia do Voluntariado.
Como foi este processo? Que entidades envolve e porque foi Lisboa
escolhida?
Lisboa
foi escolhida pela relevância do seu trabalho no domínio do voluntariado. O
júri, constituído pela organização promotora do concurso – o Centro Europeu de
Voluntariado -, considerou que foi a cidade candidata que mais próxima estava
das orientações europeias para o Voluntariado e em que o dinamismo desta área
se notava em diferentes vertentes da vida da comunidade.
Que estratégia foi então definida para levar a cabo durante todo o
ano? Que projetos nasceram no seio desta iniciativa?
O
programa Lisboa Capital Europeia do Voluntariado 2015 foi estruturado em três
eixos estratégicos de ação, que resultam do cruzamento entre a Agenda europeia
e as necessidades específicas da cidade.
O
primeiro destes eixos passava pela Qualidade, visando o desenvolvimento das
condições que as pessoas voluntárias encontram nas organizações de acolhimento,
mas também na sensibilização para a responsabilidade assumida por estas pessoas
para com as organizações. A criação do Programa +Voluntariado, em parceria com a
Confederação Portuguesa do Voluntariado veio trazer mais condições financeiras
para assegurar a qualidade dos processos de voluntariado na cidade. Este é o
primeiro programa municipal de apoio financeiro direto ao Voluntariado, que
pretende servir de incentivo para ideias inovadoras.
No
eixo do Reconhecimento, pretendia-se atuar de forma a dar visibilidade às
pessoas voluntárias e à importância das áreas em que intervêm, mas também
valorizar as aprendizagens desenvolvidas nos processos de voluntariado. A criação
do Prémio Municipal de Voluntariado e do Mecanismo de Reconhecimento de
Aprendizagens em Voluntariado são dois exemplos de iniciativas enquadradas
neste eixo.
Finalmente,
o Quadro Institucional, terceiro eixo, visava a melhoria das práticas organizacionais
e do quadro legal para o voluntariado. O I Encontro Intermunicipal de
Voluntariado, que reuniu representantes de doze autarquias de todo o país, foi
uma das iniciativas que promoveu a partilha e reflexão sobre os quadros e
práticas institucionais no país.
Terminada a iniciativa, que balanço faz? Como foi a adesão? Que
projetos vão continuar?
O
número de voluntários e instituições inscritas no Banco de Voluntariado em
Lisboa aumentou consideravelmente – sendo neste momento um dos maiores da
Europa – e o seu papel em variadas iniciativas alargou-se a uma rede de coesão
e participação que se pretende cada mais interventiva. Da cultura ao desporto,
do ambiente à intervenção social, há mais pessoas dispostas a dar parte do seu
tempo, experiência e conhecimento aos outros.
A
cooperação interinstitucional no seio da Capital foi também um ponto
importante, pois permitiu às entidades envolvidas desenvolver parcerias
existentes e fomentar outras novas. Na Comissão Organizadora da Capital, para
além da Câmara Municipal de Lisboa, participaram a Confederação Portuguesa de
Voluntariado, Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação EDP, Grace e a Santa Casa
da Misericórdia de Lisboa, mas muitas outras (num total de 108 entidades)
contribuíram para o sucesso das quase trezentas iniciativas da Capital e para o
desenvolvimento da cooperação no Voluntariado em Lisboa.
Mas
o trabalho não terminou com a passagem dos testemunhos para Londres e Sigo, que
serão capitais em 2016 e 2017, respetivamente. Lisboa foi palco da escolha não
de um, mas de dois novos pólos do voluntariado europeu, exatamente para
permitir a partir de 2015 que as cidades tenham mais tempo para se preparar.
Entretanto, Lisboa não parou e nesta área decorre presentemente a fase-piloto
do Mecanismo de Reconhecimento de Aprendizagens em Voluntariado. Por outro
lado, o Prémio Municipal de Voluntariado está em fase de apreciação para em
breve ser atribuído; estão em preparação novas edições de atividades como o
Mercado Municipal de Voluntariado ou o II Encontro Intermunicipal de
Voluntariado que acontecerá este ano em Cascais; o Guia de Gestão de
Voluntariado continuará a ser complementado com mais boas práticas; o Programa
de Voluntariado Interno da CML continuará a ser implementado. Estas são apenas
algumas das iniciativas que encontram seguimento após a Capital e que trouxeram
um impacto sustentável ao Voluntariado em Lisboa e mais além.
Que importância assume particularmente esta área do Voluntariado
para a CML? Que projetos se destacam?
Não
é por acaso que o Voluntariado se encontra no Pelouro dos Direitos Sociais.
Vemos esta área como chave para dar resposta a uma cidade que, todos os dias,
necessita da energia solidária das pessoas e das organizações para melhorar a
vida de todos. O voluntariado é também uma ferramenta de desenvolvimento da
coesão social numa cidade de tanta diversidade como Lisboa – em processos de
voluntariado também se aprende sobre Direitos Humanos e Cidadania. Diversos projetos
importantes de voluntariado tiveram lugar em Lisboa e foram reconhecidos, mas
todos os dias, em muitos outros momentos e iniciativas, mais pequenas, com
certeza menos visíveis, há formas de voluntariado que marcam a vida da
comunidade.
É
nosso empenho continuar a melhorar as condições das pessoas voluntárias e
organizações para que estas possam continuar a dar as suas respostas com cada
vez melhor qualidade e motivação. O Programa Municipal de Voluntariado e o
Banco de Voluntariado de Lisboa têm sido dois instrumentos essenciais para este
fim.
Por Sónia Bexiga/OJE / http://www.oje.pt/voluntariado-lisboa-necessita-todos-os-dias-da-energia-solidaria-das-pessoas/