sábado, 25 de outubro de 2014

ENVELHECIMENTO: - Quando a família está longe, são os amigos a trazer a felicidade

Cerca de 20% da população tem mais de 65 anos. Com a família muitas vezes a viver longe, é nos laços de amizade que os mais velhos se apoiam, sendo Portugal um dos cinco países europeus em que os idosos têm mais contactos com amigos
Com as famílias a escolher o litoral e as grandes cidades para viver, é no Interior que mais idosos vivem sozinhos. As estatísticas mostram que o fenómeno não é residual. Dos 33 963 sinalizados pela GNR no programa Censos, 4281 residem em povoações isoladas e 3026 vivem sozinhos e isolados. "Em situações como estas, os amigos têm um papel muito importante, não só na companhia que fazem, mas até mesmo na prestação de cuidados", explica ao i Verónica Policarpo, directora do Centro de Estudos e Sondagens de Opinião.
A investigadora da Universidade Católica tem debruçado o seu estudo sobre o papel da amizade nas comunidades pessoais, através de um projecto de pós--doutoramento misto desenvolvido na Universidade de Manchester e na Universidade Católica. Este será um dos estudos apresentados e um dos temas em debate na conferência "Olhares sobre a Família", que acontece hoje e amanhã na Universidade Católica em Lisboa.
Para a investigadora, são as fases de transição que ajudam a configurar as redes de amigos. "O casamento, o nascimento dos filhos, o divórcio e a entrada na reforma são alturas da vida de grande mudança e que alteram o círculo de pessoas mais próximo", explica. Apesar da grande importância dada à amizade, Verónica Policarpo ressalva que em Portugal "a família é um conceito muito forte" e que, em geral, as pessoas fazem uma distinção entre relações dadas, a família onde se nasce, e adquiridas, os amigos, que se escolhem. No entanto, as funções de uns e outros acabam por circular, ultrapassando a fronteira entre o que é um membro da família e o que é um amigo.
AMIGOS NA TERCEIRA IDADE Tendo em conta os dados do Instituto Nacional de Estatística, os números relacionados com o envelhecimento da população são ainda mais alargados. Cerca de 400 mil idosos vivem sós e outros 804 mil vivem em companhia exclusiva de outros idosos - um fenómeno que aumentou 28% ao longo da última década. De forma a fazer um enquadramento das mutações demográficas dos últimos anos, o Conselho Económico Social de- senvolveu o estudo "O Envelhecimento da População: Dependência, Activação e Qualidade", que também vai ser debatido durante a conferência.
No estudo, a equipa de investigadores fez um retrato da população idosa, concluindo que "o aumento da esperança média de vida, associado à diminuição das taxas de fertilidade, conduzirá os países europeus a enfrentar nas próximas décadas um aumento considerável da proporção das pessoas mais idosas". Apesar de se concluir que Portugal é um dos países mais envelhecidos da União Europeia, um outro dado vem dar uma perspectiva positiva: Portugal encontra-se entre os cinco países europeus em que os idosos têm mais contactos com amigos. No total, apenas 2% da população acima dos 65 anos não convive com amigos, pode ler-se no estudo.
Entre o apoio de amigos, família e vizinhos, Portugal encontra-se entre os três países com um dos melhores indicadores no que respeita à obtenção de ajuda para os idosos em caso de necessidade. Para Fernando Chau, um dos investigadores envolvidos no trabalho, os idosos "desconfiam dos cuidados oferecidos num lar e encaram o espaço como um depósito onde são deixados". O investigador faz referência a um estudo de 2007 do Ministério da Saúde sobre pessoas com necessidade de cuidados continuados, que indica que, na maioria dos casos, os familiares eram os cuidadores informais (96,3%), seguidos dos amigos não residentes no domicílio e dos vizinhos (29,5%). Perante este cenário, Fernando Chau reforça a necessidade de uma maior aposta na formação dada a quem presta serviços de apoio a idosos, mesmo que de uma forma informal, referindo-se assim a filhos, amigos, vizinhos e GNR.
Os períodos de transição num ciclo de vida são apresentados pelos investigadores como essenciais para a transformação de laços. Se por um lado, com o aumento da idade diminuem as relações de amizade, por motivos como a morte dos amigos e dificuldade de os substituir ou encontrar novas amizades, por outro, a passagem para a idade da reforma pode ser vista como um momento de retoma de laços antigos ou criação de novas ligações.
"Cada vez mais idosos recorrem às redes sociais para se reencontrarem com amizades antigas", refere Verónica Policarpo, acrescentando a tendência crescente do uso das redes para alimentar práticas que podem dar origem a novas formas de amizade, como a criação de um clube de leitura ou cursos especializados, actividades desenvolvidas mais facilmente com o tempo livre oferecido pela reforma.

http://www.ionline.pt/artigos/portugal/envelhecimento-quando-familia-esta-longe-sao-os-amigos-trazer-felicidade
Por Marta Cerqueira / publicado em 24 Out 2014 - 05:00

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

OS JOVENS E O VOLUNTARIADO

Noventa e cinco por cento dos jovens estão interessados em fazer voluntariado e 51% já realizou voluntariado. Relativamente à vantagem que o voluntariado representa quando se candidatam a um emprego, 48% considera tratar-se de uma mais-valia perante os que não têm essa experiência, enquanto 31% considerou ser irrelevante.
O Universia (http://www.universia.net), a rede de universidades presente em 23 países ibero-americanos, e o Trabalhando.com (http://www.trabajando.com), uma comunidade laboral formada por uma ampla rede de sites associados, divulgaram o resultado do 3º inquérito de Emprego de 2014. Trata-se de um estudo realizado com o objetivo de conhecer as opiniões dos universitários em relação à procura de emprego, e esta terceira fase do estudo incidiu sobre a temática do “Voluntariado”.
Com o objetivo de recolher dados mais concretos sobre a prática de voluntariado e a sua importância no âmbito laboral, o Universia, a rede de universidades presentes em 23 países ibero-americanos, e o Trabalhando.com, a comunidade laboral formada por uma ampla rede de sites associados, realizaram o seu terceiro questionário de emprego de 2014, que incidiu sobre a matéria de voluntariado. 
O estudo revela que 51% do total dos jovens inquiridos já realizou algum tipo de voluntariado. Os que nunca realizaram qualquer tipo de voluntariado, alegam que foi apenas por não terem encontrado ainda nenhum programa que fosse ao encontro das suas expectativas. 
95% dos jovens estão interessados em fazer voluntariado, o que revela uma disponibilidade e sensibilidade dos jovens de hoje para este tipo de iniciativas.
Relativamente ao tipo de voluntariado que gostavam de fazer, 26% dos participantes neste estudo afirma que gostaria de trabalhar com crianças, enquanto que 20% revela desejar ter oportunidade de trabalhar com pessoas com baixos recursos.
Relativamente à promoção de ações de voluntariado por parte das Universidades, 44% afirma que a sua universidade promove “regularmente” estas atividades; no entanto, e perante a questão se as empresas onde trabalham fomentam o voluntariado, 70% afirma que esta não é uma prática habitual na sua empresa.
Quanto aos benefícios que poderão advir do voluntariado, 50% dos inquiridos afirma que o principal benefício reside em poder ajudar as pessoas que necessitam, seguido de 23% que considera que esta prática ajuda a descobrir novos horizontes e realidades, havendo ainda 19% de inquiridos que defende que o voluntariado melhora as capacidades de empatia e de integração. 
Relativamente à vantagem que o voluntariado representa quando se candidatam a um emprego, 48% considera tratar-se de uma mais-valia perante os que não têm essa experiência, enquanto 31% considerou ser irrelevante. 
No entanto, quando se analisam as competências laborais que o voluntariado proporciona, 34% considera que aumenta a “capacidade de resolução de problemas”, 22% sustenta que ajuda à “tomada de decisão”, e 19% que contribui para a “escuta ativa”. 17% dos inquiridos considera que a prática de voluntariado promove o “pensamento crítico”, e por último, 4% assinalou que o “voluntariado não contribui para aumentar as competências das pessoas”.
Bernardo Sá Nogueira, Diretor-geral do Universia Portugal e do portal trabalhando.pt, salienta a importância deste estudo, “dado que revela a apetência geral dos jovens em fazer voluntariado, o elevado nível de compromisso que têm com a sociedade, para além de consideram ser uma mais-valia na vida profissional no momento de se candidatar a um emprego”.

Participaram neste estudo 14165 pessoas, de 10 países: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Espanha, México, Peru, Portugal, Porto Rico e Uruguai. Entre os inquiridos, verifica-se que a presença feminina (59%) prevalece sobre a masculina (41%).
Quanto à idade, 60% tem mais de 27 anos, seguido de 32% entre 21 e 26 anos. O perfil da maioria dos entrevistados é universitário (35%), seguido de 25% que se encontra a frequentar um curso superior e 10% a frequentar um mestrado/pós-graduação/doutoramento.

A Universia é a Rede de universidades mais importante da região ibero-americana, constituída por 1.290 universidades de 23 países que representam 16,8 milhões de estudantes e professores - 75% do coletivo total universitário ibero-americano. É uma referência internacional de relação universitária e conta com o mecenato do Banco Santander.

http://www.rostos.pt

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O VOLUNTARIADO, CAMINHO PARA A COOPERAÇÃO

Sempre que existem duas pessoas e entre elas se revela a ausência de satisfação de direitos, mormente fundamentais, e que se verifica estar em causa, por exemplo a saúde, a qualidade de vida e mesmo a felicidade de alguma delas, há necessidade e razão suficiente para entre essas pessoas se estabelecer uma relação e uma atitude a partir das quais e delas mesmas, seja suscitada a melhoria do bem-estar de quem se encontra em situação de desfavor, de fragilidade vária ou mesmo de dependência.
Tal como a atuação do Bom Samaritano, também é atribuição e obrigação de cada cidadão em particular, das comunidades e da sociedade em geral, agir em prol do bem-estar particular e geral de todos, independentemente de raças, géneros, religiões, capacidades económicas, etc.. E o Bom Samaritano é classificado de bom por isso mesmo. Não porque apenas viu e reportou a situação, mas porque ele também, “arregaçou as mangas” e fez o que lhe competia. Agiu segundo o seu saber e segundo as suas posses.
Fazer o que compete e não deixar a outrem que o faça, quando se trata de ajudar outra (s) pessoa (s), se por um lado é postura de cidadão atento e comprometido, por outro lado e também, é sentido altruísta, de solidariedade, de abertura de lugar na nossa vida a quem também é cidadão e com quem partilhamos, em proximidade ou não, não só o ar que respiramos mas também a condição humana. Por isso somos irmãos.
Essa postura e essa ação, pode denominar-se de muitos modos, assim como os agentes disso mesmo. Tanto podem ser os zeladores, como os cooperadores, como os cuidadores, como os voluntários. Normalmente designam-se hoje por voluntários. Mas não é por isso que deixam de ter as características próprias das outras designações. O zelador zela e cuida de algo ou de alguém e é responsável por isso mesmo, o cooperador é aquele que colabora, que participa e que ajuda, o cuidador, para além de ser quem cuida, também é diligente e zela. Então, e o voluntário?
Para além de muitos pontos comuns com o zelador, o cooperador e o cuidador, o voluntário…
“É o indivíduo que de forma livre, desinteressada e responsável se compromete, de acordo com as suas aptidões próprias e no seu tempo livre, a realizar ações de voluntariado no âmbito de uma organização promotora.” Ou seja, cuidar, zelar e cooperar deve acontecer em liberdade e na responsabilidade, deve ser um compromisso que também livremente se assume e se cumpre, de acordo com a situação, os saberes, as possibilidades, e verdadeiramente enquadrado numa Organização. Não há (não devem existir) voluntários liberais ou free-lancer. Os seres humanos são seres especiais e dotados de dignidade. Devem ser cuidados com desvelo, com sabedoria, com amor e como quem sabe e quer.
E o aspeto que acabo de referir é, também ele, bastante caro ao voluntariado do campo da saúde, aos voluntários e às Organizações. Se todos os setores de voluntariado são importantes e a sua prática deve ser querida e promovida, sem sombra de dúvida que a ação voluntária que se desenvolve em imensas Unidades de Saúde e em outros Equipamentos onde se prestam cuidados de saúde, é muitíssima importante e deve requerer atenção e carinho especial da parte de todos, nomeadamente das personalidades e das Entidades diretamente envolvidas na promoção do voluntariado e na garantia da saúde dos cidadãos.
Os voluntários cuidam, os voluntários zelam e os voluntários cooperam. Para além do aspeto da humanização, a cooperação é também ela, marca indelével do Voluntariado em Saúde. Cooperação que se opera quotidianamente e que deixa marcas positivas, contribuindo para o bem-estar geral dos utentes e dos outros colaboradores. Cooperação, que no respeito absoluto pelos papéis que a todos e a cada um competem, são sem sombra de dúvida, mais-valia e aporte talvez não mensurável para o aumento da eficiência e da eficácia dos serviços e da prestação dos cuidados, mas com sentido e com evidência no aumento da qualidade e dos níveis de satisfação de todos os stakeholders, mormente as pessoas.
Dois mil e quinze é o Ano Europeu da Cooperação para o Desenvolvimento. O lema é: ““O nosso mundo, a nossa dignidade, o nosso futuro”. A Cooperação para o Desenvolvimento não acontece apenas em outros continentes. Acontece também aqui. Acontece primariamente onde existem pessoas. Acontece também nas Unidades de Saúde onde as pessoas carecem de ajuda que lhes permitam viver e ser simultaneamente sujeitos e agentes do seu próprio desenvolvimento. Se as Unidades de Saúde são “terreno fértil” para o exercício do voluntariado humanizante, também o são para a cooperação. E pode mesmo ser caminho de experimentação para que muitos cidadãos possam vir a envolver-se em projetos e programas de outro alcance e dimensão, quer nacionais, quer mesmo europeus ou em outros continentes.
Voluntários! Sejamos agentes de cooperação!
Porto, 23 de outubro de 2014

João António Pereira,
presidente da Federação Nacional de Voluntariado em Saúde

domingo, 5 de outubro de 2014

6.º ENCONTRO NACIONAL DO VOLUNTARIADO EM SAÚDE

CONCLUSÕES

Subordinado ao tema “O Papel do Voluntariado na Saúde”, realizou-se hoje, 4 de outubro de 2014, em Santa Maria da Feira, o 6.º Encontro Nacional do Voluntariado em Saúde, com a participação de cerca de 250 voluntários, convidados e amigos do Voluntariado que em Portugal se desenvolve em Unidades e em Equipamentos onde se prestam serviços e cuidados de saúde, sobretudo no Serviço Nacional de Saúde.
O evento foi promovido e organizado pela Federação Nacional de Voluntariado em Saúde, em parceria com a Liga dos Amigos do Hospital S. Sebastião e o apoio de diversas entidades públicas e privadas, relevando-se o substancial contributo do Município de Santa Maria da Feira e dos voluntários da referida Liga.
Para além da promoção de encontro anual de quantos dedicadamente servem todos os dias os utentes das Unidades e Equipamentos de Saúde, particularmente os mais carenciados, debilitados, enfermos e outros, a iniciativa teve também o mérito de congregar preletores de excelência, que proporcionaram abordagens e reflexões de alta qualidade acerca dos diversos subtemas, contribuindo assim com os seus saberes e prestígio, para voluntariado e voluntários mais esclarecidos, mais formados, mais capacitados e mais aptos a, no campo da saúde, desempenharem o seu papel com mais eficiência, mais eficácia, mais adequação à realidade e às situações, logo com mais qualidade e com satisfação de todos os intervenientes: as pessoas e as Organizações.
Os participantes no 6.º Encontro Nacional do Voluntariado em Saúde, declaram:
1.      Comungar dos objetivos, dos conceitos e dos princípios que hoje dão forma e enquadram o voluntariado organizado em Portugal; acreditam que a prática do voluntariado é um modo possível para a vivência ativa da cidadania, e que no campo da saúde, aquela tem papel insubstituível na humanização das pessoas, dos ambientes e dos Equipamentos, complementarmente aos serviços e cuidados prestados por estes; afirmam que o voluntariado é um contributo inestimável na promoção do desenvolvimento pessoal, social e comunitário a vários níveis, passando a sua prática, muito por posturas de cooperação interpessoal e entre Organizações, e que também é fomento à participação direta, ao pensamento crítico e ao interesse ativo dos cidadãos motivados para ações de desenvolvimento, na sensibilização para os benefícios decorrentes da cooperação, não apenas para os beneficiários diretos mas para todos os cidadãos, e promovendo sentimento comum de responsabilidade, de solidariedade e de oportunidade num mundo em mutação e cada vez mais interdependente e competitivo.
Os participantes no 6.º Encontro Nacional do Voluntariado em Saúde estabelecem as seguintes conclusões:
1.      A colaboração dos voluntários junto das crianças e adolescentes em situação de estada breve ou prolongada em Unidades Hospitalares, é de fundamental importância no desenvolvimento de ações e atividades que facilitem a adaptação dessas crianças e desses adolescentes ao ambiente hospitalar, com repercussão direta na adesão ao tratamento e na minimização dos efeitos adversos da hospitalização e mesmo em frequentes e curtas estadas nas Unidades Hospitalares. Nestas, frequentemente, as crianças e os adolescentes, também e todos eles, sofrem processo de despersonalização. Deixam de ter o seu próprio nome e passam a ser um número de cama ou, então, alguém portador de uma determinada patologia. É muito difícil para as crianças e para os adolescentes, que nunca tenham vivido longe do ambiente familiar, ficar internados sem a presença dos familiares, sendo que em decorrência da hospitalização entrarão em sofrimento emocional e muitas vezes físico.


2.      No contexto da prestação de Cuidados de Saúde na Comunidade, o maior contributo do voluntariado situa-se na possibilidade do aumento da rede social de apoio à família, complementarmente à “prestação de cuidados de saúde, de apoio psicológico e social de âmbito domiciliário e comunitário; às pessoas, famílias e grupos mais vulneráveis em situação de maior risco ou dependência física e funcional ou doença que requeira acompanhamento próximo”, de modo particular às pessoas idosas constituintes de famílias unipessoais, frequentemente objeto da ausência de suporte familiar ou social que lhes permitam ter vida com qualidade e bem-estar.


3.      Sustentam que a pessoa em toda a sua vida, é sujeito dotado de profunda dignidade sendo que este aspeto adquire mais visibilidade em situação de doença terminal, de sofrimento e de morte. Os voluntários que servem nesta área de cuidados – os Cuidados Paliativos, são também eles pessoas, que estão, simplesmente estão, sem desempenharem qualquer outra tarefa que não seja a da escuta ativa em relação de ajuda; sabendo-se que a “a presença é a capacidade de estar totalmente lá, com qualidade de atenção e autenticidade na nossa forma de ser e nos nossos atos”. Os voluntários, para apoiar pessoas em situação de doença terminal, necessitam reconhecer os seus próprios medos perante o sofrimento e a morte, a fim de prestarem apoio genuíno sem mecanismos de fuga.


4.      Partilham a ousadia da diferença e da coragem de quem arrisca em função dos outros, por exemplo quando se trata de desenvolver atividades de voluntariado em contexto de prestação de cuidados em saúde mental. Creem também e sobretudo aqui, que a prática do voluntariado pode proporcionar etapas de crescimento pessoal na ajuda que se presta; e de descoberta de valores como a hospitalidade, a qualidade, o respeito, a responsabilidade e a espiritualidade, valores esses, essenciais à vida, com uma visão holística da intervenção junto dos utentes, assumindo-se a complementaridade e o papel do voluntário como agente ativo com função definida e articulada em equipa, em jeito de partilha por todos quantos bebem da alegria de servir o próximo, porque “há pessoas que precisam de pessoas que lhes prestem toda a atenção e cuidado, de forma gratuita e solidária, expressa numa assistência integral”.


5.      Reconhecem que o Reiki, terapia complementar de origem japonesa baseada na manipulação da energia vital através da imposição das mãos, e que tem o objetivo de restabelecer o equilíbrio vital, contribuiu para a eliminação de doenças e promove a saúde e o bem-estar. Reconhecem também que o Voluntariado Reiki, protagonizado por voluntários especializados, pode ser, nas Unidades e Equipamentos de Saúde e não só, uma boa ajuda aos colaboradores profissionais, aos voluntários e aos utentes. Reconhecem também que se trata de atividade gratuita, e que o contributo do voluntário Reiki se rege pelos princípios da responsabilidade, da idoneidade e da compreensão da sua área e da dimensão humana ao nível do respeito e da sensibilidade pelo próximo, valorizando substancialmente a terapia Reiki que se mostra como um excelente complemento à vida, que promove a cura sem olhar a quem, e que é prestação de amor incondicional.


6.      Sendo a atuação dos voluntários, complemento ao trabalho específico dos restantes colaboradores das Unidades e dos Equipamentos de Saúde, ela insere-se sempre na ótica da humanização dos cuidados que aí se prestam. É comum as tarefas dos voluntários não se encontrarem descritas, e o seu desenvolvimento ter variantes de acordo com o enquadramento institucional. Se por um lado parece assistir-se a uma tentativa de definição genérica da função dos voluntários na saúde, podendo isso mesmo permitir diferentes interpretações; por outro, assume-se que as tarefas afetas à função dos voluntários, não são conhecidas de todas as partes interessadas (stakholders), ao qual pode não ser alheio o risco do surgimento de repercussões negativas no que respeita às relações entre voluntários e outros colaboradores da saúde. Apesar disso e na generalidade, os participantes no 6.º Encontro Nacional do Voluntariado em Saúde, manifestam-se satisfeitos com o atual formato da Gestão do Voluntariado, enquanto responsabilidade das Organizações Sem Fins Lucrativos e não das Unidades e Equipamentos de Saúde onde atuam.


7.      Relativamente ao “Papel do Voluntariado na Saúde”, continuam a afirmar a importância e a pertinência do lugar reconhecidamente imprescindível e insubstituível da atividade voluntária que se realiza no Campo da Saúde em Portugal, não só no sentido do contributo para a humanização, como também para a execução dos objetivos do Plano Nacional de Saúde e da obtenção de níveis cada vez mais elevados de padrões de qualidade dos serviços e dos cuidados, encontrando-se este aspeto claramente evidenciado no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, estrutura através da qual o Estado Português assegura o direito à saúde a todos os cidadãos de Portugal, com o objetivo da proteção da saúde individual e coletiva, de acesso universal, compreensivo e tendencialmente gratuito.


8.      No que concerne ainda ao voluntariado e aos voluntários do campo da saúde, manifestam a pertinência e a necessidade absoluta da sua organização, da sua representação, da sua integração e da defesa dos seus direitos, bem como da promoção das suas obrigações. As Organizações de voluntariado e de voluntários (Ligas, Associações e outras) que atuam no campo da saúde em Portugal e a Federação Nacional de Voluntariado em Saúde, são, todas elas, o modo, o caminho e a estratégia necessariamente adequada e que se quer para isso mesmo; sejam elas promotoras, de enquadramento ou representativas. São a assunção por parte dos Cidadãos e da Sociedade Civil do desempenho do papel que lhes cabe e que é o seu: participar ativamente e serem a base da sociedade em funcionamento, resultante da união de todos, facilitando uma cidadania mais consciente e mais participativa.

No próximo ano, 2015, celebra-se em toda a União Europeia, o Ano Europeu da Cooperação para o Desenvolvimento, com o lema: “O nosso mundo, a nossa dignidade, o nosso futuro”. Também tem a ver com o voluntariado. Também tem a ver com o voluntariado em saúde. A Federação Nacional de Voluntariado em Saúde estará por lá, estará em sintonia com o facto e atuará de modo também próximo aos objetivos que são propostos.

Santa Maria da Feira, 4 de Outubro de 2014
Os participantes no 6.º Encontro Nacional do Voluntariado em Saúde 

Aprovado por unanimidade e aclamação

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

O PAPEL DO VOLUNTARIADO EM SAÚDE, HOJE!

Assim como parece haver mil e uma maneiras de cozinhar bacalhau, também existirão com certeza, várias e diversas de olhar o tema “O Papel do Voluntariado na Saúde, Hoje!” que me proponho tratar no Colóquio que se realiza hoje aqui em Nisa.
Não é novidade para ninguém que o voluntariado (com designações próprias de cada tempo) é prática ancestral e acontece sempre que há pelo menos duas pessoas e existe diferença de situação entre elas, nomeadamente ao nível da satisfação das necessidades pessoais ou sociais, da qualidade de vida, do bem-estar e mesmo da felicidade.
Sem caminhar no sentido de discorrências teóricas, a abordagem de hoje (a minha abordagem), parte da consciência e da justeza de fatos como por exemplo os do episódio chamado “Bom Samaritano”. Viu, não discriminou, fez-se próximo, teve compaixão, procurou resposta à necessidade, responsabilizou-se, comprometeu-se e ainda pagou do seu bolso.
Hoje e sempre, acredito eu, o papel do voluntário e em especial do voluntário no campo da saúde passa (ou deve passar) por “movimento” semelhante ao do Bom Samaritano.
O enquadramento da prática do voluntariado e o entendimento da sua importância como serviço de pessoas a pessoas, tem evoluído e sofrido mudanças ao longo dos tempos. A sociedade em geral, as Organizações e os Governos têm mesmo assumido aspetos do voluntariado que dão hoje a este, aspetos mais visíveis de responsabilidade social, de organização e de bem-fazer bem feito, caminhando das razões da esfera pessoal e micro para âmbitos mais alargados e também mais de acordo com o desenvolvimento da humanidade e das políticas. Hoje, é consensual que as grandes razões para o compromisso com o voluntariado se situam (ou devem situar-se) muito mais na prática comprometida da cidadania ativa, visando o desenvolvimento pessoal e social, que apenas na procura de recompensas a níveis não existenciais.
Sendo por um lado importante que se caminhe no sentido da definição mais elaborada dos conceitos e dos princípios do voluntariado, que ajude ao melhor enquadramento, como a perceção do papel do voluntariado, por outro lado, não deixa de ser fundamental que em cada tempo, em cada momento e em cada situação, esse papel seja, para além de prática, descoberta constante e permanente. Afinal o voluntariado, pelo menos o do campo da saúde, é essencialmente ato de ajuda de pessoas a pessoas. É uma relação de ajuda, mas também é muito mais (acredito eu) de descoberta do outro e de cada voluntário, e um grande ato de amor para com o próximo, não deixando de ser postura e prática ativa da cidadania.

João António Pereira

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

DIA NACIONAL DO SERVIÇO NACIONAL DE SAÚDE

Desde 2009 que em Portugal, o dia 15 de Setembro é dedicado ao SNS – Serviço Nacional de Saúde, proporcionando a recordação e o reconhecimento público do seu papel fundamental “na melhoria contínua do estado de saúde da população”, bem como dos seus criadores e agentes, por se considerar que “se assume como uma realização ímpar do regime democrático em Portugal, tendo contribuído para uma forte diminuição das taxas de mortalidade e de morbilidade e para o aumento da esperança e da qualidade da vida da população (…) posicionando o SNS como um bom exemplo a nível mundial”.
No Despacho de instituição (N.º 20365/2009 de 9 de Setembro), alude-se à transversalidade dos empenhamentos e contributos dos vários governos e forças políticas, e à dedicação e qualificação dos colaboradores da saúde, para considerar que assim tem sido possível “construir e preservar um Serviço Nacional de Saúde com qualidade, universal, equitativo e solidário”, e tendencialmente gratuito.
A Federação Nacional de Voluntariado em Saúde, estrutura federativa de voluntariado no campo da saúde e de representação e defesa da quase meia centena de Organizações - Ligas de Amigos e Associações de Voluntários, integrando cerca de 54.410 membros com 9.840 voluntários de ação direta, e atuando na maioria das Unidades Hospitalares do SNS, não fica indiferente ao Dia, e saúda o Serviço Nacional de Saúde.
A Direcção da FNVS está convicta que a existência deste Dia de celebração influenciará positivamente a atitude face à qualidade da prestação dos serviços e cuidados visando a satisfação dos clientes do SNS, bem como a prestação dos Voluntários em Saúde que a seu modo e no que lhes compete, contribuem complementarmente, para o bem-estar global da pessoa cuidada por via da ajuda à humanização e à promoção do bem-estar e da felicidade.

A Direção da FNVS
Porto, 15 de Setembro de 2014

sábado, 23 de agosto de 2014

ESTOU DESEMPREGADO. E AGORA?


O período fora de um emprego pode ser muito bom para desenvolver outros talentos e dedicar tempo para pessoas que precisam.

(…)
“É importantíssimo manter-se ativo, seja por meio de cursos variados ou outras ações, como, por exemplo, fazer trabalho voluntário”, comenta Madalena Feliciano, diretora de projetos da empresa Outliers Careers.
O trabalho voluntário é um exemplo de atividade que ocupa o tempo, oferece uma sensação boa para aquele que o realiza – e para quem recebe, sejam crianças, idosos, pessoas com alguma limitação ou até animais – e faz com que a pessoa possa descobrir mais uma área de atuação que realizar trabalho voluntário, mas, ao serem demitidos, existe muito tempo livre. O trabalho voluntário faz com que a pessoa se sinta valorizada e, muitas vezes, mesmo quando retorna ao mercado, ela não deixa o voluntariado de lado, pois descobre as vantagens que ele traz para a vida de todos”, exalta Madalena.
(…)

http://www.administradores.com.br/noticias/carreira/estou-desempregado-e-agora/91617/

segunda-feira, 28 de abril de 2014

 O VOLUNTARIADO EM SAÚDE,

HÁ SETE ANOS QUE TEM FEDERAÇÃO
 

Há sete anos nascia na “Antiga, Mui Nobre, Sempre Leal e Invicta Cidade do Porto”, a Federação Nacional de Voluntariado em Saúde – FNVS. Estávamos a 21 de maio de 2007. Foram onze, as Organizações de Voluntariado no Campo da Saúde, que com coragem e determinação deram esse passo no sentido da organização deste setor de voluntariado, numa estrutura federativa.
A Federação Nacional de Voluntariado em Saúde, foi um sonho, foi uma expectativa, e foi uma necessidade que a princípio foi sentida e incitada, e que foi sempre querida, não já apenas por um pequeno punhado de Organizações e Serviços, mas rapidamente por algumas dezenas, uma grande parte das Organizações que atuam nas Unidades de Saúde do Serviço Nacional de Saúde.
A Federação Nacional de Voluntariado em Saúde tem a missão de integrar, representar, promover o quadro de valores comuns, preservar a identidade e o voluntariado, e defender os interesses, das Organizações Promotoras de Voluntariado em Saúde e das Organizações Representativas de Voluntários do Campo da Saúde, suas associadas, com domicı́lio fiscal em Portugal; e desenvolver e alargar a base de apoio social no que concerne à mobilização para o Voluntariado em Saúde e à melhoria dos serviços que se prestam aos beneficiários, com envolvência da comunidade.
Hoje, a FNVS integra 46 Organizações de Voluntariado e de Voluntários do Campo da Saúde, (envolvendo cerca de 54.410 cidadãos e 9.840 voluntários de ação direta), estabelecidas no vasto território nacional.
A FNVS presta às associadas, os Serviços de Consultoria Jurídica, em Contabilidade e Fiscalidade, e em Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho, Serviços de Seguros de Acidentes Pessoais para Voluntários, para Dirigentes Voluntários e para participantes de Atividades, e o Seguro de Responsabilidade Civil para Organizações. Soluções especialmente desenhadas para o setor. Ministra ainda Ações de Formação para qualificação de voluntários e de gestores de voluntariado, tendo para o efeito, uma Bolsa de Formadores, constituída. A FNVS tem parcerias firmadas com Entidades públicas e privadas que permitem a realização dos seus objetivos, e os das suas associadas.
A Federação Nacional de Voluntariado em Saúde está a fazer caminho. Caminho com os voluntários e outros membros das suas associadas e com estas, caminho com outras Organizações que aceitem filiar-se ou colaborar, caminho com quem de boa vontade está empenhado na organização deste setor em particular, e em todos os âmbitos e contextos de ação voluntária ao serviço das pessoas, das comunidades e da sociedade, e na promoção e defesa do voluntariado.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

OS DOENTES E UM DIA DELES
É já no próximo dia 11 deste mês de fevereiro que se celebra em quase todo o mundo, o XXII Dia Mundial do Doente, independentemente de crenças, filosofias e políticas particulares, embora a iniciativa se situe no campo da Igreja Católica Apostólica Romana.
Raramente, alguém fica indiferente à enorme multidão que no mundo vive as mais variadas situações de doença, e sofre. Doenças físicas, mentais, de indiferença, ou de falta de acesso aos bens mais elementares para a vida e a saúde humana. Tanta situação de mal-estar, de fome e de desprezo ou marginalização, que presenciamos mesmo do outro lado da nossa rua ou quiçá no nosso prédio ou aldeia.
A mensagem para este ano que o Papa Francisco dirige especialmente “às pessoas doentes e a quantos lhes prestam assistência e cura” chama a atenção de todos, mormente das pessoas de boa vontade e de coração reto, para a obrigação sem exceção, que temos de “dar a vida pelos nossos irmãos” - agir no sentido da promoção do bem-estar pessoal e social de quem nos rodeia, independentemente das suas situações, das suas orientações e opções de vida, e dos seus enquadramentos religiosos e políticos, mas sempre com o objetivo de que se sintam bem, felizes e enquadrados socialmente, porque seres de plena dignidade.
Essa postura e essa atuação que é pedida e que nos formata a nós voluntários do campo da saúde, emana não só da nossa qualidade de cidadãos ativos e conscientes das responsabilidades que aportamos enquanto tal face aos outros, mas também porque somos gente de fé, animados por um espírito que em nós vivifica, nos transforma e envia no sentido da doação solícita, disponível, gratuita e com um grande sentido de humanidade, logo, em direção à humanização dos serviços, dos cuidados e das relações interpessoais nos Equipamentos onde atuamos e onde se realizam Serviços e Cuidados de Saúde.
A Federação Nacional de Voluntariado em Saúde, plataforma de representação de voluntários e Organizações de Voluntariado do Campo da Saúde em Portugal, está atenta e comunga do texto e do espírito da Mensagem do Papa Francisco para o XXII Dia Mundial do Doente. Também ela, a Federação, saúda com muito amor e votos de bem, todas as pessoas que sofrem e aquelas que, independentemente de vínculos ou denominações, velam e atuam no sentido da cura e da promoção da saúde de quantos se encontram aos seus cuidados. Uma saudação muito especial aos voluntários integrados nas Organizações filiadas na Federação.
A terminar e citando o Papa Francisco, deixemo-nos contagiar pelo espírito, por aquele espírito que verdadeiramente nos ensina ”a olhar sempre para o outro com misericórdia e amor, sobretudo para quem sofre, para quem tem necessidade de ajuda”.
Porto, 2 de fevereiro de 2014

A Direção da FNVS

domingo, 19 de janeiro de 2014

A CARIDADE E A CIDADANIA
“Ou como os voluntários são agentes da caridade”

Por estes dias li uma peça jornalística – entrevista, publicada num Órgão da Comunicação Social de grande tiragem em Portugal, em que a pessoa entrevistada – distinta personalidade com responsabilidades no voluntariado, em âmbito nacional, afirmou a certa altura que “estamos a evoluir da caridade para o voluntariado”. Louvo a iniciativa e o facto de uma vez mais o voluntariado ser razão de notícia. No entanto, fiquei muito sensibilizado com a afirmação que citei.
Como se sabe, o texto escrito não é audível enquanto tal e só comunica por palavras e pela pontuação. Por isso é impossível fazer qualquer leitura, por exemplo sobre qual teria sido a intenção da afirmação, considerando-se que não raras vezes se alude à caridade como algo menor ou mesmo com sentido depreciativo. Na peça a que faço referência, tal não me parece que tenha acontecido, pelo conhecimento que tenho sobre a pessoa entrevistada.
Independentemente das práticas, das vontades e da história, parece-me que caridade “casa” muito bem com voluntariado, e muito mais ainda com cidadania. Possivelmente não tanto com solidariedade, mas mais com cidadania, tenho quase a certeza. E não podemos nem devemos, nem querer omitir nem negar as nossas raízes judaico-cristãs, que são o ar que respiramos e o espírito que nos anima.
Segundo a Wikipédia, Caridade é um sentimento ou uma ação altruísta de ajuda a alguém sem busca de qualquer recompensa. A prática da caridade é notável indicadora de elevação moral e uma das práticas que mais caracterizam a essência boa do ser humano, sendo, em alguns casos, chamada de ajuda humanitária”.
Por outras palavras (que são as minhas), a caridade poderá ser a concretização ou o comportamento, impelidos a partir de atitude amorosa que formata cada pessoa, mesmo não explicitamente crente em alguma divindade. É parte de nós – pessoas, está em nós, e se cultivarmos essa predisposição interior e a consequente prática para o serviço ao outro, aos outros - à comunidade, esse conceito ou concretização, que muito se quer apelidar seja do que for, mas que por mais voltas que se deem, é e será sempre: a caridade.
Assistimos ao aparecimento de eufemismos como o conceito de solidariedade, claramente muito mais light, que não compromete e pretensamente não estará assim não enraizado na nossa história. Hoje é mais in ser solidário que ser caridoso. São sinais dos tempos.
A caridade é muito mais do que alguma vez alguém possa imaginar. Se por um lado é uma característica que não se pode apagar, por outro, é um compromisso que cada pessoa em si mesma e face aos outros – à comunidade, faz acontecer em si e assume.
A caridade é um dom gratuito, que se recebe, que se incorpora e se dá. Essa gratuidade faz com que quem serve, o faça sem esperar qualquer tipo de recompensa, nem mesmo em outra situação existencial que não a material.
A caridade acontece no seio da disponibilidade interior e prática, disponibilidade essa que nos faz estar atentos, de alerta ou de atalaia aos sinais, às necessidades e às carências objetivas, digamos, oportunidades de servir.
A caridade exercita-se em contexto de responsabilidade. Não só responsabilidade pessoal mas também coletiva – a das organizações. Não é ajuda que se presta sem competência mas no sentido do bem bem feito e que satisfaça.
A caridade é convergente e comunga dos conceitos pessoais mas também comunitários, queridos e assumidos, e acontece em âmbito e no sentido da comunhão, comunhão essa que dá força e vivifica, pessoal e comunitariamente.
A prática da caridade, quer ela tenha origem pessoal, quer na comunidade, ela é sempre promotora de desenvolvimento pessoal e social, e traz consigo mais-valias humanas e espirituais que marcam indelevelmente.
A caridade é amor, e a sua vivência, sendo uma relação de amor, também é e promove o entrosamento e o engajamento dos seus agentes e destinatários, criando assim verdadeiras redes sociais e humanas que dificilmente serão desfeitas porque criadas em amor.
Então, e a cidadania?
Segundo a Wikipédia, a cidadania “é o conjunto de direitos e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em relação à sociedade em que vive”. Tem portanto a ver com os cidadãos – as pessoas, em contexto de sociedade, claramente mais visível em democracias.
Segundo o conceito, o ambiente de cidadania pode definir-se como a prática continuada dos direitos e dos deveres dos cidadãos e da sociedade civil, com o objetivo do bem comum.
Cidadania ativa significa, antes de mais nada, o envolvimento ativo dos cidadãos na participação na vida das suas comunidades e, dessa forma, na democracia, no que respeita à atividade e tomadas de decisão. As atividades de voluntariado são uma expressão de cidadania ativa. No entanto, a participação cívica ativa não se esgota na prática do voluntariado.
A iniciativa da prática do voluntariado, tem lugar nos cidadãos – as pessoas, que interiorizam que têm o dever de contribuir para o bem-estar e para a felicidade das outras pessoas e da sociedade, e se comprometem nisso mesmo. Essa prática não dispensa a responsabilidade, a disponibilidade, a gratuidade e a convergência de conceitos e de práticas. É na prestação de um serviço ou de um cuidado, em que todos os intervenientes se sentem satisfeitos, nomeadamente os beneficiários, que devemos “medir” os impactos e a validade positiva do voluntariado.
Mas que têm a ver, voluntariado e cidadania, com caridade?
Talvez não seja eu a melhor fonte de saber de modo a dar a explicação mais acertada sobre o assunto. Mas o que sinto é que quando nos referimos a cidadãos, não estamos a referir-nos apenas a indivíduos contáveis, mas a pessoas, não a seres desumanizados mas a seres humanos, seres de algum modo superiores dotados de dignidade que devemos e queremos considerar e que amamos. Porque é aí e por aí, que o amor faz sentido e a caridade acontece.
É interessante o percurso histórico e cultural que a sociedade e a humanidade têm feito ao longo dos tempos, que levam a que por exemplo, a que hoje as pessoas sejam cidadãos e que o contexto humano e societário em que existem, vai incorporando valores e conceitos como o amor, a fraternidade e a compaixão.
Assim sim. Continua a fazer sentido realizar a caridade com tudo o que isso possa implicar. A caridade não é conceito estéril e bolorento. Continua a ser um espírito e uma prática que anima e dá força, que visa o bem-estar e a felicidade das pessoas e da sociedade.
À cidadania, chamar-lhe-ia eu, a nova caridade. Não que desta, haja uma velha e uma nova. Mas sempre a mesma, mas com outro rosto, outros rostos e outras dimensões, talvez com mais autenticidade e verdade, e mais disseminada.
Se a prática ativa da cidadania pode passar pela prática do voluntariado e não se esgota aí, então por maioria de razão, o voluntariado é, a meu ver, a prática da caridade. Sim, caridade “casa” muito bem com voluntariado e com cidadania.
Os voluntários, essa multidão que ninguém ainda conseguiu contar, acabam por ser nos tempos que são os de hoje, os grandes agentes da caridade e da cidadania. Mormente no campo da saúde, são eles – os voluntários, também grandes obreiros do contributo para o bem-estar e para a qualidade de vida e dos cuidados nas Unidades de Saúde e fora delas, não realizando o que não lhes compete mas o que é o seu múnus.
Muitos são os utentes dos Serviços, familiares e outros, para quem a presença mais amiga, mais fraterna e mais amorosa para com eles, é precisamente a dos voluntários e das voluntárias, quais anjos de bata amarela (e de outras cores).
Segundo a peça a que aludi, a personalidade entrevistada afirmou que “o voluntariado não pode substituir postos de trabalho. E isso acontece, por vezes. Quando se fazem inspeções, verifica-se isso. Não nos compete fiscalizar, mas temos notícia que isso acontece. O voluntariado é para acrescentar, não é para ocupar o posto de trabalho de ninguém. "Há um grande risco e é preciso estar muito atento. Não somos nós que fazemos a fiscalização, é a Segurança Social, e é preciso que fique muito claro que um voluntário é um voluntário, não é um trabalhador da empresa”.
Na sua singularidade, informalidade mas com responsabilidade, competência e sentido do dever, aí estão os voluntários da saúde, sempre solícitos para atender às necessidades e carências reveladas, quais agentes do amor e da caridade fraterna.
Bem-hajam!

João António Pereira

"O VOLUNTARIADO

NÃO PODE SUBSTITUIR POSTOS DE TRABALHO"


Elza Chambel, presidente do Conselho para a Promoção do Voluntariado. "Passamos da caridadezinha para a cidadania", diz. Há mais de meio milhão de voluntários em Portugal.
Preside ao Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado desde 2006, Elza Chambel segura as pontas enquanto o novo organismo, instituído por lei, não é criado. Com a mesma garra e filosofia: ser voluntário é uma questão de cidadania, diz.


Em que fase de execução está o Plano Nacional do Voluntariado 2013-2015?
Atenção! Esse plano ainda não está em execução. Fundamentalmente, é uma boa ideia, mas prevê a criação de um grupo de trabalho, que ainda não foi designado, a criação de um novo conselho e a extinção de uma série de organismos, entre os quais, este conselho.

E esse grupo de trabalho, não foi criado porquê?
Não sei. Não faço parte do Governo. É uma boa ideia, transversal a todos os ministérios, mas não está ainda em funcionamento. O que eu disse ao ministro é que estaria aqui enquanto fosse necessário.

Mas este conselho está à beira de ser extinto....
Sim, à beira... Mas não se sabe quando. Para já, continuamos em pleno funcionamento. Disse ao sr. ministro que ficaria enquanto fosse necessário.

A crise aumentou o voluntariado?
Sim. Verifica-se que há um aumento de voluntários, mas talvez porque se fala mais de voluntariado. Desde o início que começamos a fazer divulgação, sobretudo, nas camadas jovens, com o slogan "ser voluntário é cool!". O Ano Internacional do voluntariado (2011) impulsionou muito o voluntariado. Temos cerca de 600 mil pessoas a desenvolver atividades de voluntariado. Estamos a evoluir da caridade para o voluntariado.

Há quem se aproveite desta circunstância de crise?
Há. O voluntariado não pode substituir postos de trabalho. E isso acontece, por vezes. Quando se fazem inspeções, verifica-se isso. Não nos compete fiscalizar, mas temos notícia que isso acontece. O voluntariado é para acrescentar, não é para ocupar o posto de trabalho de ninguém. "Há um grande risco e é preciso estar muito atento. Não somos nós que fazemos a fiscalização, é a Segurança Social, e é preciso que fique muito claro que um voluntário é um voluntário, não é um trabalhador da empresa.

O voluntariado jovem tem crescido?
Muito. Temos a campanha "Ser voluntário é cool" e muitas adesões.

E o que motiva os voluntários?
Sejamos pragmáticos. Há quem o faça porque atingiu a idade da reforma e ainda sente vontade de fazer coisas; e há quem o faça porque o voluntariado permite viajar e conhecer novas culturas, facilita contactos que poderão ajudar à entrada no mercado de trabalho. Tudo isso é bom!

O peso na economia deste trabalho voluntário está longe de ser apurado. Que dados lhe chegam?
Está por apurar, de facto. Há um estudo de 2008, da União Europeia e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que aponta para 1% do Produto Interno Bruto (PIB) português.

Cinco anos depois, esse valor estará desatualizado?
Espero bem que sim! Penso que será muito superior.

Que projetos chegaram aqui, ao conselho, que mais a sensibilizaram?
Muitos. Muitos, mesmo! O mysocialproject, o re-food, sei lá... a Ajudaris, no Porto. Muitos, mesmo! Há pouco tempo estive em Pern. Sabe onde é Pern? Não, não é Pernes, que Pernes é em Santarém, na minha terra. Pern é nos Montes Urais, a 1500 quilómetros da Rússia. Fomos convidados a apresentar lá os nossos projetos.

Clara Vasconcelos