sábado, 23 de julho de 2016

ABRANTES:

A DONA MIRA,

FOI A DECANA DO VOLUNTARIADO


Faleceu a 12 de maio último em Abrantes, aos 96 anos, a decana do voluntariado Maria Ramiro Godinho, carinhosamente conhecida por Dona Mira, e que pertencia à equipa da Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes.

Mira Godinho, que nasceu em Abrantes no dia 27 de abril de 1920, foi velada na Igreja da Santa Casa da Misericórdia, na sexta-feira, 13, dia em que decorreu uma missa, pelas 18:00, tendo o funeral sido realizado pelas 11:00 de sábado seguinte.
Dona Mira, a decana do voluntariado no Hospital de Abrantes
A cumprir o 15º ano em atividade, a Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes criou em 2004 um grupo de voluntárias para prestarem apoio no hospital de dia (que existia então em Abrantes), ao nível da ortopedia, medicina, cirurgia e doenças cancerígenas terminais, assegurando acompanhamento e visitas diárias, apoio psicológico, palavras de conforto e ajuda na hora da toma das refeições.
Dona Mira, como é afetuosamente tratada pelas companheiras, sabia bem o que significa lidar com doenças terminais. O seu marido lutou durante doze anos contra um cancro, uma batalha que viria a perder em luta muito sofrida.
Então com 84 anos, dona Mira foi a primeira a inscrever-se para o serviço de voluntariado da Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes. Queria vestir uma bata amarela para ajudar o próximo, partilhar a experiência de vida e os conhecimentos adquiridos. E o objetivo estava bem definido: ajudar e confortar os doentes com cancro e doenças terminais. O que fez, até ao final dos seus dias.
O presidente da Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes, Luís Fernandes, disse que a notícia do falecimento de Dona Mira significa “uma perda enorme” para todos, tendo destacado que Mira Godinho “era a decana das voluntárias, com uma vida dedicada aos pobres e aos doentes, através da Liga”.

Texto adaptado da publicação em http://www.antenalivre.pt/noticias/abrantes
Foto: Américo Lobato/Gala Antena Livre & Jornal de Abrantes 2015 / MRF

domingo, 17 de julho de 2016

Pelos caminhos do voluntariado............ POR CÁ!


O Voluntariado em Saúde

O voluntariado, como iniciativa social de apoio à comunidade, tem-se tornado um eixo de desenvolvimento das sociedades modernas. Acompanhando esta evolução, também em Portugal, tem-se assistido a um crescendo de projetos e iniciativas de voluntariado, acompanhado por uma valorização pública.

O voluntariado no sector da saúde é uma realidade no nosso país, designadamente na prestação de cuidados informais, complementares aos cuidados técnicos formais.
No entanto, desde os finais dos anos 80 que se verificaram, em especial na Europa, grandes alterações no perfil dos voluntários, correspondendo, também, a novas formas de voluntariado onde a qualidade e os padrões de exigência técnica são mais elevados.
À ação voluntária na saúde, como em outros sectores, é exigida competência humana e qualidade técnica.
As instituições e os voluntários na saúde são cada vez mais rigorosos e exigentes, nomeadamente ao nível da organização do trabalho voluntário, formação do voluntário, sendo determinante a necessidade de clareza na definição de atribuições e atividades que podem e devem ser desempenhadas por este.
Neste contexto, a definição do voluntariado em saúde e das atividades que podem ser realizadas por um voluntário ao nível dos cuidados informais é necessária, como forma de se promover, de forma mais clara e transparente, o voluntariado no sector, designadamente ao nível do apoio à prestação de cuidados.
Por outro lado, em Portugal, e de acordo com o relatório do Conselho Nacional de Promoção do Voluntariado, o recrutamento de novos voluntários processa-se, quase sempre, num circuito fechado, dentro do universo dos já voluntários, fazendo com que algumas instituições já conheçam três gerações de voluntários da mesma família.
De facto, a promoção de oferta de voluntários não é feita de forma alargada, sendo muito restritas as possibilidades de um cidadão aceder por si só à informação necessária para que possa aderir a um projeto de voluntariado.

Esta circunstância é uma realidade na saúde. Em verdade não existe um espaço único ao qual as instituições e os cidadãos possam aceder, que facilite e promova o voluntariado, não existindo, também, estatísticas sobre o voluntariado na saúde, embora exista a consciência de que este tem grande preponderância no sector. De facto, este é um trabalho que, também, importa realizar.

Para mais informação sobre voluntariado, consultar o site do CNPV- Conselho Nacional de Promoção de Voluntariado, http://www.voluntariado.pt/


Fonte: http://www.dgs.pt/participacao-da-sociedade-civil/actividades-e-projectos/voluntariado-em-saude.aspx

Pelos caminhos do voluntariado........... GLOBAL!

ONU escolhe Brasil para lançar plataforma de voluntariado online

Renata Werneck

renata.werneck@jornaldebrasilia.com.br
O Programa das Nações Unidas para o Voluntariado (United Nations Volunteers – UNV) escolheu o Brasil para lançar mundialmente sua nova plataforma de voluntariado online. O evento de lançamento ocorreu nesta sexta-feira (dia 15), em Brasília. O projeto é uma colaboração entre a equipa brasileira das Nações Unidas e a Samsung América Latina.
A plataforma foi lançada em terras brasileiras por aquele país ocupar a quarta posição mundial em número de voluntários online na ONU e, ter um alto potencial de crescimento no Brasil. Ela é uma forma rápida, inclusiva e atraente de unir forças em prol da paz e do desenvolvimento mundial.
O UNV espera utilizar sua experiência em envolvimento de cidadãos e em soluções tecnológicas para garantir que o voluntariado seja parte integral da implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs). Eles formam uma agenda de ações para acabar com a pobreza, promover a prosperidade, proteger o ambiente e combater as alterações climáticas e, para alcançá-los, foram criadas parcerias stakeholders.
Dois serviços foram lançados pelo coordenador executivo do UNV, Richard Dictus. Além do site repaginado: a consulta “1-click”, que permite conectar as organizações a pessoas que podem proporcionar dados para alcançar o desenvolvimento sustentável por meio de um dispositivo eletrónico e a solução de voluntariado online para funcionários de empresas globais. Nela, é possível contribuir em diversas necessidades das organizações apoiantes como arte, redação e edição, tradução, ensino e desenvolvimento tecnológico. Participaram no evento, o coordenador executivo do UNV, Richard Dictus, o coordenador residente das Nações Unidas, o embaixador da Alemanha, Dirk Brengelmann e Karol Arámbula, que contou a sua experiência como voluntária online das Nações Unidas.
Programa
O UNV foi criado pela Assembleia Geral da ONU no ano de 1970 e é administrado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Ele foi criado com o intuito de contribuir para a paz e o desenvolvimento através do voluntariado. O Programa está presente em 130 países todos os anos e opera no Brasil desde 1998. São 12.00 voluntários online por ano e 177 países engajados na causa.
Fonte: http://www.jornaldebrasilia.com.br/cidades/onu-escolhe-brasil-para-lancar-plataforma-de-voluntariado-online/

domingo, 10 de julho de 2016

Pelos caminhos do voluntariado...

SER VOLUNTÁRIO

O poema "Ser Voluntário" foi escrito em 2009 pelo senhor Manuel Columbino (parece que bem conhecido como Manel Franganito) e publicado no seu blogue. Ele que é voluntário no Centro de Saúde de Grândola. Mas quem é o senhor Manuel Columbino? Vejamos o que ele diz de si mesmo:

"Hoje, sou aposentado, frequento a Universidade Sénior de Grândola e sou VOLUNTÁRIO no Centro de Saúde de Grândola, dando assistência aos UTENTES nas manhãs de Segunda e Quinta/Feira nas salas de espera das consultas.
Fui Bombeiro Voluntário, e ao mesmo tempo profissional pois que era funcionário como motorista, tendo passado ao serviço permanente em 1-1-1980 em todos nos serviços inerentes à Associação dos (BOMBEIROS VOLUNTÁRIOS DE GRÂNDOLA). Entre 1977 e 2003, tendo passado ao quadro de Honra em 30 de setembro de 2003, altura em que deixei de trabalhar e passei a fazer a minha vida de aposentado. Fui também columbófilo desde 1982 até finais de 2006. Altura em que por motivos de saúde tive que abandonar. E fui dirigente da (SOCIEDADE COLUMBÓFILA DE GRÂNDOLA) e sou um dos 15 fundadores da mesma, pois que na altura eram precisas quinze assinaturas para que se pudesse fundar uma coletividade com estas características, e por isso conseguimos entre amigos que ajudaram a fundar esta coletividade. E durante todos estes anos fui dirigente da Coletividade tendo passado por quase todos os cargos diretivos, mas a maior parte deste tempo foi como Presidente da Direção. Presentemente sou Presidente da Direção da ASSOCIAÇÃO UNITÁRIA DE REFORMADOS PENSIONISTAS E IDOSOS DE GRÂNDOLA, onde também faço voluntariado no bar.
Vejam também o que ele também diz sobre a sua atividade de voluntariado: - ser voluntário faz parte da minha vida desde há longos anos. Como todos sabem fiz parte do Corpo dos Bombeiros Voluntários de Grândola desde 1977 até final de 2003 altura em que passei ao quadro de Honra e me reformei, mas continua a ser para mim uma paixão quase inexplicável para as pessoas que não sente esta necessidade de se sentirem úteis, de darem um pouco do seu tempo, do seu carinho da sua amizade em prol daqueles que por infelicidade ou por doença se veem isolados desta Sociedade em que vivemos e que deveria dar-lhe o apoio a que tem direito.
Mas infelizmente tal não acontece. É quando mais precisa de apoio que se vê votado ao abandono, e por isso necessita de toda a nossa ajuda, de um pouco do nosso carinho e amizade.
Quem não entra nesta experiência nem sabe, e nem pensa o quanto é gratificante receber destas
pessoas um simples sorriso, e ver um pouco de brilho no seu olhar, o que nos traz uma enorme felicidade e uma grande paz de espírito por podermos minimizar o sofrimento deste Seres, sem
Sr. Manuel Columbino
que nada nos peçam ou que nos dêem algo em troca.

Como continuo a ser voluntário faço parte do grupo de voluntariado do Centro de Saúde de Grândola, extensão de saúde de Grândola.
Por tudo isto meus amigos, eu continuo a ser VOLUNTÁRIO.
Junta-te a nos, Voluntários."

Nota: esta peça foi produzida a partir de contributos encontrados e extraídos de http://mcolumbino.blogspot.pt/ . Não sabemos se o senhor Manuel Columbino ainda se encontra entre nós, já que a última entrada no blogue se verificou em 2014. Como ficámos a conhecer o seu endereço eletrónico vamos comunicar com ele. E vamos dizer-lhe quanto o admiramos e o quanto solidário estamos com ele. Vamos também desejar-lhe vida longa. Se já não for por cá, que seja na eternidade.
(João António Pereira, presidente da Direção da Federação Nacional de Voluntariado em Saúde, Porto, 10 de julho de 2016).

Pelos caminhos do voluntariado

CONTA COMIGO
(Reportagem Especial da SIC, emitida a 3 de julho).

São cada vez mais as pessoas que assumem o voluntariado como forma de estar na vida. Homens e mulheres, reformados ou em idade ativa, fazem tempo para dar aos outros.
Voluntárias da LAHNSA, Seia

Nos hospitais do interior do país, entre as Beiras e Trás-os-montes, onde a humanização dos serviços é mais do que uma emergência médica, ou em pequenas comunidades onde cresce o número de idosos sem família por perto. Ninguém espera nada em troca, mas todos sem exceção dizem-se compensados quando recebem um simples sorriso.

Aceda aqui à reportagem:

terça-feira, 5 de julho de 2016

Também pelos caminhos do voluntariado...

Faleceu ALZIRA BRAGA

Exmos. Srs.
É com enorme pesar e profunda consternação que informamos que a nossa colega da Direção da Federação, Alzira Braga, que desempenhava o cargo de tesoureira, faleceu na noite de sábado para domingo último (de 3 para 4 de junho de 2016).

O corpo da nossa muito estimada colega, encontra-se em câmara ardente desde as 17 horas de hoje em Gondomar, localidade onde as cerimónias fúnebres se realizam amanhã, dia 6, a partir das 15 horas.
Alzira Braga, de seu nome completo, Alzira Maria Braga de Sousa Oliveira Cavalheiro Gomes, que residia em Gondomar, para além de membro da Direção da Federação, era-o também da Associação Voluntariado do Hospital S. João e de outras associações do concelho de residência.

Alzira Braga nasceu em Penafiel a 31 de março de 1952, mas foi na cidade do Porto que concluiu a licenciatura em "Animação Sócio-Cultural", na Escola Superior de Educação (ESE) do Porto, em 2002. Profissionalmente, além de artista, exerceu a actividade docente como Professora do 1º Ciclo do Ensino Básico. Ao longo do tempo, leccionou em estabelecimentos de ensino localizados nos Concelhos de Marco de Canaveses, Penafiel e Gondomar.

Foi como professora na cidade de Gondomar que ali pôde satisfazer o desejo que nascera de longa convivência com familiares ligados às Artes Plásticas: estudar pintura e desenvolver saberes sobre técnicas de pastel, carvão e óleo sobre tela. E, porque gostava de estar e participar, fez-se sócia e dirigente da ARGO - Associação Artística de Gondomar.
Usava o pseudónimo Pequenú e foi já como Pequenú, seu "petit nom" de infância, que assinou os primeiros trabalhos. Iniciou-se pincelando flores, recantos pitorescos e naturezas mortas que então dominavam a sua sensibilidade. Com a marcha do tempo, foi evoluindo para outras temáticas, aperfeiçoando e avançando agora na expressividade dos rostos, na volúpia dos nus e no encantamento da paisagem portuense, que nunca se esgota. Estreou-se, em exposições colectivas, em espaços como o Ateneu Comercial do Porto, em 1981. Seguidamente, passou a expor os seus trabalhos em diversas galerias, localizadas no Porto, Gondomar, Paredes, Penafiel, Espinho e Barcelos. Em 1993, aventurou-se a expor individualmente.
Como dirigente da ARGO, trabalhou pela divulgação das atividades artísticas no concelho de Gondomar. Realizou várias exposições individuais, destacando-se em 1993 - no Restaurante “O Bule” - Foz, Porto; em 1994 - também Restaurante “O Bule” - Foz, Porto; em 1995 - no Restaurante “O Solar de Leça” - Leça da Palmeira; em 1997 – no Convento do Vale das Pereiras - Ponte de Lima; em 1998 - na Junta de Freguesia de S. Mamede Infesta / Casa da Cultura de Fânzeres; em 2000 - no Auditório Municipal de Gondomar; em 2001 - no Ayuntamiento de Murcia - Espanha; em 2002 - no Restaurante “Galeria” - S. Mamede Infesta. A última exposição, realizou-a já este ano na Casa Branca de Gramido, Gondomar.

À família de Alzira Braga, a Direção da Federação apresenta sentidas condolências.
Porto, 5 de julho de 2016
A Direção da Federação Nacional de Voluntariado em Saúde

Este texto foi produzido pelo presidente da Direção da Federação Nacional de Voluntariado em Saúde e com recursos recolhidos em http://letraseartes.com/index.php?option=com_sobi2&sobi2Task=sobi2Details&sobi2Id=3&Itemid=2

domingo, 3 de julho de 2016

Pelos caminhos do voluntariado....

Quanto vale o voluntariado?
“Devemos medir o valor económico do voluntariado?” Esta é a pergunta que domina as conclusões do final do encontro “Colocar o voluntariado no mapa económico da Europa”, organizado pelo CEV (Centro Europeu do Voluntariado), em 2008. Trata-se de uma questão crucial, e em nosso entender, bem longe de ser resolvida dentro e fora do mundo do voluntariado e da comunidade académica. O mesmo relatório do CEV dá destaque às argumentações contrárias à avaliação económica do voluntariado e reconhece que a medição financeira do voluntariado deve ser acompanhada e integrada com indicadores e métodos capazes de avaliar a contribuição do voluntariado para a “coesão social, a integração, a inclusão social, a participação ativa, a saúde, o desenvolvimento pessoal, a promoção do capital social e o empoderamento, etc.” (CEV, 2008: 7). Ou seja. É necessário – enfatiza o CEV – desenvolver uma metodologia e instrumentos que tornem visíveis os impactos da filosofia e dos princípios inspiradores do voluntariado” ( [i] ).
O que é o voluntariado, e o que visa? “O voluntariado é o conjunto de ações de interesse social e comunitário realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de projetos, programas e outras formas de intervenção (…)” (Lei 71/98); de imediato, visa ser um serviço às pessoas, às famílias. Mas; e a outro nível, o voluntariado é também a expressão do exercício livre de uma cidadania ativa e solidária, em ambiente de autonomia e pluralismo. Por isso, o Estado português reconhece que o voluntariado tem valor social; e se assumiu como seu promotor, ao definir as bases do seu enquadramento jurídico.
E ainda; o exercício do voluntariado, baseia-se em valores e em princípios que o diferenciam. Valores como a solidariedade, a responsabilidade, a convergência, a gratuidade, a cooperação, a complementaridade e a participação, são suficientemente fortes para que não deva existir qualquer confusão com qualquer outra atividade que tenha como primeira finalidade, a produção de riqueza.
Por exemplo, o voluntariado não é individualista. É solidário. Todo e qualquer cidadão, por si mesmo e com os outros, é responsável pelos outros cidadãos; e pela promoção de cada um deles e de todos, porque todos são dotados de elevada dignidade.
O voluntariado é um exercício gratuito. Por isso, o voluntário não é remunerado, nem pode receber subvenções ou donativos pelo exercício do seu trabalho voluntário.
E também: em Organizações cuja base de operacionalidade se encontra em colaboradores com vinculo laboral ou similar, a atividade voluntária é complementar à dos outros colaboradores; e os voluntários não devem substituir os recursos humanos não voluntários. Para além de que, as motivações de uns colaboradores são completamente diferentes dos outros, implicando diferentes modos de gestão.
Pode aceitar-se que o voluntariado seja medido em termos do seu contributo para a economia. Mas o que vale o voluntariado, não se restringe à economia, à produção de riqueza. O voluntariado vale muito mais que isso. As pessoas valem muito mais que isso. Pode mesmo dizer-se que as pessoas, dada a sua suprema dignidade, pode mesmo dizer-se… que valem mais que todo o ouro do mundo.
Mesmo que o queiramos, não nos fiquemos apenas pelo aspeto do valor económico. Olhemos à volta e vejamos os impactos do exercício do voluntariado: logo, e à partida, nas pessoas. Não apenas em algumas. Vejamos esses impactos, por exemplo nos voluntários, nos beneficiários da ação voluntária, nos outros colaboradores das Organizações de Enquadramento; e nas outras pessoas que de algum modo estão em relação próxima com a atividade, mas que não beneficiam diretamente dela.
Umas pessoas poderão manifestar “que bem que me sinto depois de uma tarde de voluntariado
no Hospital! Foi tão cansativo, mas ao mesmo tempo tão gratificante!” Outras poderão desabafar que “aquela senhora voluntária é tão amorosa, tão compreensiva… ponho-me p’rá qui a falar e ela nunca me manda calar nem dá bitaites. É tão boa companhia! Quando ela está, o tempo passa tão depressa!...”. Outras poderão referir que “dantes não era assim. Desde que há cá um grupo de voluntariado organizado… parece que o serviço até corre melhor. Parece que até na nossa equipa de profissionais, as coisas andam melhor!... Vale mesmo a pena termos voluntariado cá na UCC.” Outras ainda, as menos próximas do projeto de voluntariado, poderão também dizer que “eu não sei bem o que se passa. Mas que mudança terá havido no Centro de Saúde que agora parece que somos tratados com mais simpatia, mais cordialidade; e diga-se mesmo: com mais respeito. Será que a entrada dos voluntários ao serviço foi a gota de água para que as coisas mudassem para melhor?”.
Pois é. É que o valor do voluntariado, não é apenas económico. É também pessoal. É social. E no que concerne ao voluntariado que se realiza no campo da saúde, os aspetos não económicos, são muito mais evidentes. A companhia, o acompanhamento, a ajuda no acesso aos serviços e aos cuidados, a facilitação no desempenho de tarefas básicas da vida diária, mesmo em caso de internamento, em face das reais situações dos beneficiários e ante a evidente disponibilidade dos voluntários, estes aspetos não económicos, digam-se impactos, são por demais valorizados por todos os protagonistas e pelas Organizações. E estas, as Unidades de Saúde, maioritariamente do Serviço Nacional de Saúde, sabem isso e comunicam-no quer por palavras quer por atos.
De facto, no campo da saúde, as posturas e os gestos do voluntariado e dos voluntários, até podem ser irrelevantes em termos materiais ou físicos. Mas a nível cultural, da espiritualidade, dos sentimentos ou das emoções… e também ao nível da terapêutica, o valor aportado à prestação dos cuidados é de uma dimensão que não se pode contar. Trata-se de humanidade. Trata-se de considerar as pessoas, todas as pessoas que se encontram em situações de carência, de desfavor, de fragilidade e diminuídas ou dependentes. A obrigação solidária também passa por certo tipo de atuação que implique respeito pela dignidade dessas pessoas, que contribua para a melhoria do seu bem-estar, da qualidade da sua vida¸ que promova a sua autonomia e a sua liberdade, bem como o seu desenvolvimento pessoal humano e espiritual, no respeito pelas vontades e pelas diferenças.
No campo da saúde, faz sentido medir o valor económico do voluntariado? Na verdade, não sei. O que sei é que se deve estar atento ao assunto. Em termos de Organização, pode ser interessante abordar o assunto. Mas, como se repara, em saúde, os impactos mais evidentes do voluntariado, são muito mais ao nível do que (pelo menos no presente) não se afigura passível de ser medido do que ao contrário. No entanto não é uma coisa má, que as Organizações comecem a fazer o exercício do estabelecimento de objetivos mensuráveis de atuação, a procederem à sua monitorização e à produção de relatórios estatísticos. Isso até pode revelar-se interessante relativamente à valoração das relações e das parcerias com as Unidades de Saúde.
Agora, o que pode ser nefasto no campo da saúde, é haver uma forte dedicação ao aspeto do valor económico do voluntariado descurando os demais impactos (e positivos por demais). Se assim vier um dia acontecer, certamente que valores com a solidariedade, a gratuidade, a disponibilidade; e outros que suportam concetualmente o voluntariado e lhe dão alma, poderão correr o risco de dar lugar ao individualismo, à corrida desenfreada na realização de objetivos, ao mercantilismo; e à perca do sentido de humanidade e do outro. Ora, um dos grandes objetivos do voluntariado no campo da saúde, é a humanização. E sem voluntariado, o contributo para a humanização, afigura-se incompleto. Esse grande contributo passa, não por discursos, mas pela ação diária, próxima e concreta dos voluntários nas Unidades de Saúde.
Qualquer que seja a direção que prossiga a discussão e a implementação do assunto “medição do valor económico do voluntariado”, é importante, e sem o desvalorizarmos, que pelo menos a Federação Nacional de Voluntariado em Saúde e as Organizações que a constituem, evidenciem e reclamem que mais que aquele, o que conta são as pessoas e o valor associado às pessoas e à humanização. No dia em que se pretender medir os sentimentos, as emoções e a dignidade da pessoa, esta perde a sua humanidade.
João António Pereira, presidente da Direção da Federação Nacional de Voluntariado em Saúde.
Porto, 3 de julho de 2016


[i] In.: - Voluntariado em Portugal, contextos, atores e práticas, Fundação Eugénio de Almeida, Évora, s/data.