VENCE A INDIFERENÇA,
E CONQUISTA A PAZ
A 1 de janeiro de cada ano, desde 1968, celebra-se o Dia
Mundial da Paz, (
[i])
uma iniciativa que o papa Paulo VI tomou a 8 de dezembro de 1967, quando em
mensagem se dirigiu a todos os homens de boa vontade para os exortar a celebrarem
o
“Dia
da Paz” em todo o mundo no primeiro dia de cada ano civil. Conforme o
desejo que manifestou, o Dia tem sido celebrado como augúrio e promessa, que
“mede e traça o caminho da vida humana no
tempo que seja a Paz, com o seu justo e benéfico equilíbrio, a dominar o
processar-se da história no futuro”.
Desde o primeiro ano da sua celebração, o Dia Mundial da Paz
tem sido acompanhado de propostas de reflexão, sempre pertinentes e atuais: a promoção dos direitos humanos como caminho
para a paz (1969), e se queres a paz
defende a vida (1977), são apenas duas dessas propostas. Para 2016, o papa
Francisco propõe “vence a indiferença e
conquista a paz”.
Depois de enumerar algumas formas atuais de indiferença, o
papa Francisco corajosamente refere que a paz se encontra “ameaçada pela indiferença globalizada” que em diversos aspetos da
sua realidade contribui para o desenraizamento de “comunidades inteiras do seu ambiente de vida, constrangendo-as à
precariedade e à insegurança, criando novas pobrezas, novas situações de
injustiça com consequências muitas vezes desastrosas em termos de segurança e
paz social.”
Mais à frente Francisco aponta caminho em direção à misericórdia
e afirma que “também nós somos chamados a
fazer do amor, da compaixão, da misericórdia e da solidariedade um verdadeiro
programa de vida, um estilo de comportamento nas relações de uns com os outros”,
requerendo isto “a conversão do
coração, (…) capaz de se abrir aos outros com autêntica solidariedade.”
A solidariedade, continua Francisco, “é muito mais do que um «sentimento de compaixão vaga ou de
enternecimento superficial pelos males sofridos por tantas pessoas, próximas ou
distantes». Segundo Francisco, a
solidariedade «é a determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem
comum, ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente
responsáveis por todos», porque a compaixão brota da fraternidade.
Assim entendida, a
solidariedade constitui a atitude moral e social que melhor dá resposta à
tomada de consciência das chagas do nosso tempo e da inegável interdependência
que se verifica cada vez mais, especialmente num mundo globalizado, entre a
vida do indivíduo e da sua comunidade num determinado lugar e a de outros
homens e mulheres no resto do mundo.”
Depois de dizer da necessidade de ser fomentada “uma cultura de solidariedade e misericórdia
para se vencer a indiferença” adianta que a paz é fruto dessa mesma cultura,
afirmando ainda que apesar de haver “a
consciência da ameaça duma globalização da indiferença”, não se pode deixar
de reconhecer também, a existência de “numerosas
iniciativas e ações positivas que testemunham a compaixão, a misericórdia e a
solidariedade de que o homem é capaz.”
O papa Francisco recorda alguns “exemplos de louvável empenho, que demonstram como cada um pode vencer
a indiferença, quando opta por não afastar o olhar do seu próximo, e constituem
passos salutares no caminho rumo a uma sociedade mais humana.”
Colocando a paz sob o signo da misericórdia, o papa Francisco
quase no final da sua mensagem formula ainda “um premente apelo aos líderes dos Estados para que realizem gestos
concretos a favor dos nossos irmãos e irmãs que sofrem pela falta de trabalho, terra e teto”, que passem
pela “criação de empregos dignos para
contrastar a chaga social do desemprego,” situação que afeta ”fortemente, o sentido de dignidade e de
esperança, e só parcialmente é que pode ser compensada pelos subsídios, (…).
Especial atenção deveria ser dedicada às mulheres (…) a algumas categorias de
trabalhadores, cujas condições são precárias ou perigosas e cujos salários não
são adequados à importância da sua missão social.”
Finalmente, Francisco convida “à realização de ações eficazes para melhorar as condições de vida dos
doentes, garantindo a todos o acesso aos cuidados sanitários e aos medicamentos
indispensáveis para a vida, incluindo a possibilidade de tratamentos
domiciliários.”
Nota do redator desta peça: no início deste ano de 2016, os
melhores votos vão para a possibilidade de o trabalho voluntário que se realiza
no campo da saúde, ser efetivamente e também, um caminho, para além da promoção
do bem-estar das pessoas que são ajudadas e de todos os intervenientes, seja,
dizia, um contributo para a superação da indiferença interpessoal, comunitária
e global, em direção à paz também ela, interpessoal, comunitária e global. Bem-hajais
voluntários da saúde, também vós fazedores da paz.
Porto, 1 de janeiro de 2016
João António Pereira, presidente da Direção / Federação Nacional de Voluntariado em Saúde
[i] Não se trata do Dia Internacional da
Paz. Este celebra-se a 21 de setembro e foi declarado pela ONU – Organização das
Nações Unidas, a 30 de novembro de 1981. Em 21 de Setembro de 2006, por ocasião
do Dia Internacional da Paz, Kofi Annan afirmou que “a Assembleia Geral [da
ONU] proclamou o Dia Internacional da Paz como um dia de cessar-fogo e de não-violência
em todo o mundo (…) cuja finalidade não é apenas que as pessoas pensem na paz,
mas sim que façam também algo a favor da paz.”