CONCLUSÕES
Subordinado ao tema “O Papel do Voluntariado na Saúde”,
realizou-se hoje, 4 de outubro de 2014, em Santa Maria da Feira, o 6.º Encontro
Nacional do Voluntariado em Saúde, com a participação de cerca de 250
voluntários, convidados e amigos do Voluntariado que em Portugal se desenvolve
em Unidades e em Equipamentos onde se prestam serviços e cuidados de saúde, sobretudo
no Serviço Nacional de Saúde.
O evento foi promovido e organizado pela Federação Nacional
de Voluntariado em Saúde, em parceria com a Liga dos Amigos do Hospital S.
Sebastião e o apoio de diversas entidades públicas e privadas, relevando-se o
substancial contributo do Município de Santa Maria da Feira e dos voluntários
da referida Liga.
Para além da promoção de encontro anual de quantos dedicadamente
servem todos os dias os utentes das Unidades e Equipamentos de Saúde,
particularmente os mais carenciados, debilitados, enfermos e outros, a
iniciativa teve também o mérito de congregar preletores de excelência, que
proporcionaram abordagens e reflexões de alta qualidade acerca dos diversos
subtemas, contribuindo assim com os seus saberes e prestígio, para voluntariado
e voluntários mais esclarecidos, mais formados, mais capacitados e mais aptos
a, no campo da saúde, desempenharem o seu papel com mais eficiência, mais
eficácia, mais adequação à realidade e às situações, logo com mais qualidade e
com satisfação de todos os intervenientes: as pessoas e as Organizações.
Os participantes no 6.º Encontro Nacional do Voluntariado em
Saúde, declaram:
1.
Comungar dos objetivos, dos conceitos e dos
princípios que hoje dão forma e enquadram o voluntariado organizado em
Portugal; acreditam que a prática do voluntariado é um modo possível para a
vivência ativa da cidadania, e que no campo da saúde, aquela tem papel insubstituível
na humanização das pessoas, dos ambientes e dos Equipamentos, complementarmente
aos serviços e cuidados prestados por estes; afirmam que o voluntariado é um
contributo inestimável na promoção do desenvolvimento pessoal, social e
comunitário a vários níveis, passando a sua prática, muito por posturas de
cooperação interpessoal e entre Organizações, e que também é fomento à
participação direta, ao pensamento crítico e ao interesse ativo dos cidadãos
motivados para ações de desenvolvimento, na sensibilização para os benefícios
decorrentes da cooperação, não apenas para os beneficiários diretos mas para
todos os cidadãos, e promovendo sentimento comum de responsabilidade, de
solidariedade e de oportunidade num mundo em mutação e cada vez mais interdependente
e competitivo.
Os participantes no 6.º Encontro Nacional do Voluntariado em
Saúde estabelecem as seguintes conclusões:
1.
A colaboração dos voluntários junto das crianças
e adolescentes em situação de estada breve ou prolongada em Unidades Hospitalares,
é de fundamental importância no desenvolvimento de ações e atividades que
facilitem a adaptação dessas crianças e desses adolescentes ao ambiente
hospitalar, com repercussão direta na adesão ao tratamento e na minimização dos
efeitos adversos da hospitalização e mesmo em frequentes e curtas estadas nas
Unidades Hospitalares. Nestas, frequentemente, as crianças e os adolescentes,
também e todos eles, sofrem processo de despersonalização. Deixam de ter o seu
próprio nome e passam a ser um número de cama ou, então, alguém portador de uma
determinada patologia. É muito difícil para as crianças e para os adolescentes,
que nunca tenham vivido longe do ambiente familiar, ficar internados sem a
presença dos familiares, sendo que em decorrência da hospitalização entrarão em
sofrimento emocional e muitas vezes físico.
2.
No contexto da prestação de Cuidados de Saúde na
Comunidade, o maior contributo do voluntariado situa-se na possibilidade do
aumento da rede social de apoio à família, complementarmente à “prestação de cuidados de saúde, de apoio
psicológico e social de âmbito domiciliário e comunitário; às pessoas, famílias
e grupos mais vulneráveis em situação de maior risco ou dependência física e
funcional ou doença que requeira acompanhamento próximo”, de modo
particular às pessoas idosas constituintes de famílias unipessoais,
frequentemente objeto da ausência de suporte familiar ou social que lhes
permitam ter vida com qualidade e bem-estar.
3.
Sustentam que a pessoa em toda a sua vida, é
sujeito dotado de profunda dignidade sendo que este aspeto adquire mais
visibilidade em situação de doença terminal, de sofrimento e de morte. Os
voluntários que servem nesta área de cuidados – os Cuidados Paliativos, são
também eles pessoas, que estão, simplesmente estão, sem desempenharem qualquer
outra tarefa que não seja a da escuta ativa em relação de ajuda; sabendo-se que
a “a presença é a capacidade de estar
totalmente lá, com qualidade de atenção e autenticidade na nossa forma de ser e
nos nossos atos”. Os voluntários, para apoiar pessoas em situação de doença
terminal, necessitam reconhecer os seus próprios medos perante o sofrimento e a
morte, a fim de prestarem apoio genuíno sem mecanismos de fuga.
4. Partilham
a ousadia da diferença e da coragem de quem arrisca em função dos outros, por
exemplo quando se trata de desenvolver atividades de voluntariado em contexto
de prestação de cuidados em saúde mental. Creem também e sobretudo aqui, que a
prática do voluntariado pode proporcionar etapas de crescimento pessoal na
ajuda que se presta; e de descoberta de valores como a hospitalidade, a
qualidade, o respeito, a responsabilidade e a espiritualidade, valores esses,
essenciais à vida, com uma visão holística da intervenção junto dos utentes,
assumindo-se a complementaridade e o papel do voluntário como agente ativo com
função definida e articulada em equipa, em jeito de partilha por todos quantos
bebem da alegria de servir o próximo, porque “há pessoas que
precisam de pessoas que lhes prestem toda a atenção e cuidado, de forma
gratuita e solidária, expressa numa assistência integral”.
5.
Reconhecem que o Reiki, terapia complementar de
origem japonesa baseada na manipulação da energia vital através da imposição
das mãos, e que tem o objetivo de restabelecer o equilíbrio vital, contribuiu
para a eliminação de doenças e promove a saúde e o bem-estar. Reconhecem também
que o Voluntariado Reiki, protagonizado por voluntários especializados, pode
ser, nas Unidades e Equipamentos de Saúde e não só, uma boa ajuda aos
colaboradores profissionais, aos voluntários e aos utentes. Reconhecem também
que se trata de atividade gratuita, e que o contributo do voluntário Reiki se
rege pelos princípios da responsabilidade, da idoneidade e da compreensão da
sua área e da dimensão humana ao nível do respeito e da sensibilidade pelo
próximo, valorizando substancialmente a terapia Reiki que se mostra como um
excelente complemento à vida, que promove a cura sem olhar a quem, e que é
prestação de amor incondicional.
6.
Sendo a atuação dos voluntários, complemento ao
trabalho específico dos restantes colaboradores das Unidades e dos Equipamentos
de Saúde, ela insere-se sempre na ótica da humanização dos cuidados que aí se
prestam. É comum as tarefas dos voluntários não se encontrarem descritas, e o
seu desenvolvimento ter variantes de acordo com o enquadramento institucional.
Se por um lado parece assistir-se a uma tentativa de definição genérica da
função dos voluntários na saúde, podendo isso mesmo permitir diferentes
interpretações; por outro, assume-se que as tarefas afetas à função dos
voluntários, não são conhecidas de todas as partes interessadas (stakholders), ao
qual pode não ser alheio o risco do surgimento de repercussões negativas no que
respeita às relações entre voluntários e outros colaboradores da saúde. Apesar
disso e na generalidade, os participantes no 6.º Encontro Nacional do
Voluntariado em Saúde, manifestam-se satisfeitos com o atual formato da Gestão
do Voluntariado, enquanto responsabilidade das Organizações Sem Fins Lucrativos
e não das Unidades e Equipamentos de Saúde onde atuam.
7.
Relativamente ao “Papel do Voluntariado na
Saúde”, continuam a afirmar a importância e a pertinência do lugar
reconhecidamente imprescindível e insubstituível da atividade voluntária que se
realiza no Campo da Saúde em Portugal, não só no sentido do contributo para a
humanização, como também para a execução dos objetivos do Plano Nacional de
Saúde e da obtenção de níveis cada vez mais elevados de padrões de qualidade
dos serviços e dos cuidados, encontrando-se este aspeto claramente evidenciado
no âmbito do Serviço Nacional de Saúde, estrutura através da qual o
Estado Português assegura o direito à
saúde a
todos os
cidadãos de
Portugal, com o
objetivo da proteção da saúde individual e coletiva, de acesso universal,
compreensivo e tendencialmente gratuito.
8.
No que concerne ainda ao voluntariado e aos
voluntários do campo da saúde, manifestam a pertinência e a necessidade
absoluta da sua organização, da sua representação, da sua integração e da
defesa dos seus direitos, bem como da promoção das suas obrigações. As
Organizações de voluntariado e de voluntários (Ligas, Associações e outras) que
atuam no campo da saúde em Portugal e a Federação Nacional de Voluntariado em
Saúde, são, todas elas, o modo, o caminho e a estratégia necessariamente
adequada e que se quer para isso mesmo; sejam elas promotoras, de enquadramento
ou representativas. São a assunção por parte dos Cidadãos e da Sociedade Civil
do desempenho do papel que lhes cabe e que é o seu: participar ativamente e
serem a base da sociedade em funcionamento, resultante da união de todos,
facilitando uma cidadania mais consciente e mais participativa.
No
próximo ano, 2015, celebra-se em toda a União Europeia, o Ano Europeu da
Cooperação para o Desenvolvimento, com o lema: “O nosso mundo, a nossa dignidade, o nosso futuro”. Também tem a
ver com o voluntariado. Também tem a ver com o voluntariado em saúde. A
Federação Nacional de Voluntariado em Saúde estará por lá, estará em sintonia
com o facto e atuará de modo também próximo aos objetivos que são propostos.
Santa Maria da Feira, 4 de Outubro de 2014
Os participantes no 6.º Encontro Nacional
do Voluntariado em Saúde
Aprovado por unanimidade e aclamação