VOLUNTARIADO
VIRA NEGÓCIO NA ÁFRICA
ALGUMAS
ENTIDADES COBRAM DOS VOLUNTÁRIOS 350 EUROS POR MÊS, PREÇO QUE INCLUI TAXA DE
INSCRIÇÃO E MANUTENÇÃO, ALÉM DA PASSAGEM DE AVIÃO E DOS GASTOS COM O VISTO
Cada vez mais
jovens querem dar um novo sentido a suas férias, pegam a mochila e aterrissam
em qualquer ONG da África para ajudar durante algumas semanas. Para isso é
preciso tempo, empatia, esperança... e muito dinheiro.
Várias ONGs
detectaram um lucrativo negócio nesta crescente necessidade de
ajuda, e agora fomentam um voluntariado disposto a pagar para financiar
seus projetos perante a diminuição de ajudas públicas.
"Elas se
voltaram a captar voluntários, a criar projetos em torno deles e se financiar
com as cotas que são cobradas", explicou à Agência Efe Laura Carmona,
especialista em cooperação internacional para o desenvolvimento na África
Subsaariana.
Entidades
como Children of Africa, um exemplo que representa dezenas, cobra dos voluntários
350 euros por mês, preço que inclui taxa de inscrição e manutenção, além da
passagem de avião e dos gastos com o visto.
"O
voluntariado se transformou em um negócio que nada tem a ver com a cooperação
internacional. Parece que só importa o dinheiro e que, portanto, é dirigido a
pessoas que podem pagar", lamentou Carmona.
Este modelo
atrai voluntários mais interessados em viver experiências e impor conhecimentos
do que em compreender uma comunidade local e tentar apoiá-la.
"O
voluntário é uma pessoa não remunerada e não especialista no campo, o que afeta
a incidência dos projetos e as comunidades locais, que veem estrangeiros
poderosos que desconhecem a idiossincrasia local e que acreditam saber do que
os locais necessitam", criticou a especialista.
A visão dos
principais envolvidos, os voluntários, é diferente. Alguns entendem que é justo
pagar por seu alojamento e manutenção, enquanto outros opinam que seu trabalho,
pelo qual não recebem nenhum salário, deve cobrir pelo menos este parágrafo.
"Colaborei
em um centro hospitalar exercendo a medicina e a ONG cobria minhas despesas, é
algo que me parece fundamental, pois ofereci um trabalho profissional de forma
voluntária", comentou a esponhola Ana Gutierrez, que coopera com a
Fundação Pablo Horstmann na Etiópia.
"Cerca
de 75 euros por semana acho que é um preço justo porque 35% são destinados a
cobrir meu alojamento e minha dieta. Trabalhamos com muitas crianças e de
alguma maneira é preciso financiá-las", opinou Zaida González, voluntária
no orfanato queniano Chazon.
Esta forma de
financiamento das ONG tem uma sustentabilidade caduca, já que os projetos só
poderão ser mantidos enquanto houver voluntários.
Outro modelo
de cooperação que prolifera são as chamadas "férias solidárias", uma
combinação de visitas turísticas ao país acompanhadas de um trabalho voluntário
nos projetos da ONG que são organizados.
Vanesa
Lozano, da ONG Africa Sawabona com sede no Senegal, defende este modelo perante
a progressiva redução de contribuições públicas. "O simples fato de viajar
é uma escola. Conhecer outros estilos de vida te enriquecem como pessoa",
opinou à Agência Efe.
No entanto,
para Carmona, o resultado é o mesmo. "Os viajantes financiam um projeto
que não conhecem a fundo. São pessoas não selecionadas que caem nas comunidades
de paraquedas".
Consciente da
necessidade das ONG e da sincera vontade de muitos dos jovens que embarcam
nestas altruístas aventuras, Lozano acredita que uma maior formação por parte
das ONG aos voluntários melhoraria a experiência de forma bidirecional.
"Da
mesma forma que com o voluntariado, férias solidárias com um bom acompanhamento
e formação por parte da organização pode dar um sentido a este tipo de viagem,
convidando as pessoas a se aprofundarem mais e conhecer os contextos que levaram
às necessidades", propôs.
http://epocanegocios.globo.com/Informacao/Visao/noticia/2015/07/voluntariado-vira-negocio-na-africa.html
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