quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

GESTÃO DE VOLUNTARIADO

No que é que não podemos falhar

quando trabalhamos com voluntários?


De acordo com o conhecimento que se vai construindo, os pronunciamentos institucionais e pessoais que surgem, e o enquadramento jurídico do voluntariado que, por exemplo em Portugal se consubstancia principalmente na Lei 71/98 regulamentada pelo Decreto-Lei 389/99, o voluntariado é “o conjunto de ações de interesse social e comunitário, realizadas de forma desinteressada por pessoas, no âmbito de projetos, programas e outras formas de intervenção ao serviço dos indivíduos, das famílias e da comunidade desenvolvidos sem fins lucrativos por entidades públicas ou privadas”; e o voluntário ”é o indivíduo que de forma livre, desinteressada e responsável se compromete, de acordo com as suas aptidões próprias e no seu tempo livre, a realizar ações de voluntariado no âmbito de uma organização promotora ([i])”.
Em síntese, o voluntariado é um serviço realizado por pessoas em benefício de pessoas, famílias e comunidades. E a pessoa voluntária realiza esse serviço na linha da concretização da missão do voluntariado “como expressão do exercício livre de uma cidadania ativa e solidária”, e norteada por sete princípios: “a solidariedade, a participação, a cooperação, a complementaridade, a gratuitidade, a responsabilidade e a convergência ([ii])”.
O voluntariado não é uma atividade free-lancer ou liberal. O voluntariado é uma atividade solidária que se realiza em contexto de projeto ou de programa, com o enquadramento dado por uma direção técnica ou por uma coordenação, em uma organização, a “organização promotora”.
Sendo a “gestão de recursos humanos, gestão de pessoas ou administração de recursos humanos, também conhecida por RH, e uma associação de habilidades e métodos, políticas, técnicas e práticas definidas com objetivo de administrar os comportamentos internos e potencializar o capital humano, ela tem por finalidade selecionar, gerir e nortear os colaboradores na direção dos objetivos e metas da organização ([iii])”. Temas como “expectativas e atitudes em relação ao trabalho, motivação, participação, liderança, comunicação, conflito, poder, influência, qualificação, produtividade ([iv])”, se são caros aos RH, são-no também sem sombra de dúvida quando se trata de gestão de voluntariado ou de voluntários.
Por um lado, a atividade de voluntariado é muitas vezes parte da atividade geral das organizações, por outro, em muitas outras situações organizacionais, ela é mesmo a atividade preponderante, como no caso do voluntariado que se realiza no campo da saúde.
O voluntariado no campo da saúde é, em Portugal e no mundo, um serviço voluntário, com especificidades muito próprias. Se é sempre um serviço realizado por pessoas em benefício de pessoas, os beneficiários ou população alvo, é sempre constituída por pessoas em situação de enfermidade, aguda ou grave, de sofrimento físico ou psicológico, de debilidade ou vulnerabilidade, de carência e de diminuição de capacidade de utilização dos serviços de saúde ou de respostas sociais.
Os voluntários no campo da saúde, em complemento e em cooperação com os outros colaboradores das unidades de saúde e das respostas sociais, são quase sempre, autênticos artesãos da solidariedade gratuita e disponível, da ajuda aconchegada, e da escuta ativa, cujo objetivo é a promoção e a concretização do bem-estar pessoal, social e espiritual de quantas pessoas acolhem ou os procuram. Por aqui passa a grande missão do voluntariado do campo da saúde e respetivos voluntários: humanizar.
Se também no campo da saúde, é importante que o voluntariado se encontre organizado, também é fundamental que aqui exista uma verdadeira gestão dos recursos humanos voluntários, sabendo-se que nesta área de atividade existem particularidades que devem ser tidas em boa conta como por exemplo, a ausência de benefício financeiro para os voluntários.
No campo saúde, há e sempre têm havido, exigências muito claras e sérias no que concerne aos RH. Desde a verdadeira preocupação com o recrutamento e seleção, passando pela formação e capacitação, assim como no que respeita à integração em equipas, ao acompanhamento, à avaliação e à certificação.
Mas os voluntários do campo da saúde, são também e com muita qualidade, verdadeiros “servidores” e construtores de relações. A atividade destes voluntários, é fundamentalmente, uma atividade de relação interpessoal, seja com outros colaboradores, seja com doentes, seja com os diversos utilizadores dos serviços de saúde e das respostas sociais. É uma atividade que “trabalha” no âmbito dos sentimentos e das emoções, e da procura de bem-estar dos beneficiários, também a este nível. É uma atividade que requer da parte dos voluntários, o melhor e mais assertivo desempenho com vista à obtenção de resultados de excelência na satisfação de todos os intervenientes, pessoais e organizacionais.
No âmbito da RH, as organizações que enquadram voluntários, especialmente aquelas em que a atividade daqueles é sobretudo de construção e promoção de relações interpessoais de qualidade, e de acolhimento de pessoas em situação de fragilidade física e emocional, como no campo da saúde, devem enfatizar o aspeto do acompanhamento psicológico aos seus voluntários. Se em nenhum aspeto RH é suposto falhar, refuto de muito mas mesmo muito importante o acompanhamento que referi, na linha da gestão dos sentimentos e do equilíbrio emocional dos próprios voluntários, e claro, a promoção de medidas nesse sentido com vista à existência de melhores voluntários e melhor serviço voluntário às pessoas, nomeadamente no campo da saúde.
Porto, 4 de fevereiro de 2015
João António Pereira
Presidente da Federação Nacional de Voluntariado em Saúde




[i] Lei 71/98.
[ii] Idem.
[iii] https://pt.wikipedia.org/wiki/Gest%C3%A3o_de_recursos_humanos
[iv] Idem.

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