No que é que não podemos falhar
quando trabalhamos com voluntários?
De acordo com o conhecimento que se vai construindo, os
pronunciamentos institucionais e pessoais que surgem, e o enquadramento
jurídico do voluntariado que, por exemplo em Portugal se consubstancia
principalmente na Lei 71/98 regulamentada pelo Decreto-Lei 389/99, o
voluntariado é “o conjunto de ações de
interesse social e comunitário, realizadas de forma desinteressada por pessoas,
no âmbito de projetos, programas e outras formas de intervenção ao serviço dos
indivíduos, das famílias e da comunidade desenvolvidos sem fins lucrativos por
entidades públicas ou privadas”; e o voluntário ”é o indivíduo que de forma livre, desinteressada e responsável se
compromete, de acordo com as suas aptidões próprias e no seu tempo livre, a
realizar ações de voluntariado no âmbito de uma organização promotora ([i])”.
Em síntese, o voluntariado é um serviço realizado por pessoas
em benefício de pessoas, famílias e comunidades. E a pessoa voluntária realiza
esse serviço na linha da concretização da missão do voluntariado “como expressão do exercício livre de uma
cidadania ativa e solidária”, e norteada por sete princípios: “a solidariedade, a participação, a
cooperação, a complementaridade, a gratuitidade, a responsabilidade e a
convergência ([ii])”.
O voluntariado não é uma atividade free-lancer ou liberal. O
voluntariado é uma atividade solidária que se realiza em contexto de projeto ou
de programa, com o enquadramento dado por uma direção técnica ou por uma
coordenação, em uma organização, a “organização
promotora”.
Sendo a “gestão de
recursos humanos, gestão de pessoas ou administração de recursos humanos,
também conhecida por RH, e uma associação de habilidades e métodos, políticas,
técnicas e práticas definidas com objetivo de administrar os comportamentos
internos e potencializar o capital humano, ela tem por finalidade selecionar,
gerir e nortear os colaboradores na direção dos objetivos e metas da
organização ([iii])”.
Temas como “expectativas e atitudes em
relação ao trabalho, motivação, participação, liderança, comunicação, conflito,
poder, influência, qualificação, produtividade ([iv])”,
se são caros aos RH, são-no também sem sombra de dúvida quando se trata de
gestão de voluntariado ou de voluntários.
Por um lado, a atividade de voluntariado é muitas vezes parte
da atividade geral das organizações, por outro, em muitas outras situações
organizacionais, ela é mesmo a atividade preponderante, como no caso do
voluntariado que se realiza no campo da saúde.
O voluntariado no campo da saúde é, em Portugal e no mundo,
um serviço voluntário, com especificidades muito próprias. Se é sempre um
serviço realizado por pessoas em benefício de pessoas, os beneficiários ou
população alvo, é sempre constituída por pessoas em situação de enfermidade,
aguda ou grave, de sofrimento físico ou psicológico, de debilidade ou
vulnerabilidade, de carência e de diminuição de capacidade de utilização dos
serviços de saúde ou de respostas sociais.
Os voluntários no campo da saúde, em complemento e em
cooperação com os outros colaboradores das unidades de saúde e das respostas
sociais, são quase sempre, autênticos artesãos da solidariedade gratuita e
disponível, da ajuda aconchegada, e da escuta ativa, cujo objetivo é a promoção
e a concretização do bem-estar pessoal, social e espiritual de quantas pessoas
acolhem ou os procuram. Por aqui passa a grande missão do voluntariado do campo
da saúde e respetivos voluntários: humanizar.
Se também no campo da saúde, é importante que o voluntariado
se encontre organizado, também é fundamental que aqui exista uma verdadeira gestão
dos recursos humanos voluntários, sabendo-se que nesta área de atividade
existem particularidades que devem ser tidas em boa conta como por exemplo, a
ausência de benefício financeiro para os voluntários.
No campo saúde, há e sempre têm havido, exigências muito
claras e sérias no que concerne aos RH. Desde a verdadeira preocupação com o
recrutamento e seleção, passando pela formação e capacitação, assim como no que
respeita à integração em equipas, ao acompanhamento, à avaliação e à
certificação.
Mas os voluntários do campo da saúde, são também e com muita
qualidade, verdadeiros “servidores” e
construtores de relações. A atividade destes voluntários, é fundamentalmente,
uma atividade de relação interpessoal, seja com outros colaboradores, seja com
doentes, seja com os diversos utilizadores dos serviços de saúde e das
respostas sociais. É uma atividade que “trabalha”
no âmbito dos sentimentos e das emoções, e da procura de bem-estar dos
beneficiários, também a este nível. É uma atividade que requer da parte dos
voluntários, o melhor e mais assertivo desempenho com vista à obtenção de
resultados de excelência na satisfação de todos os intervenientes, pessoais e
organizacionais.
No âmbito da RH, as organizações que enquadram voluntários,
especialmente aquelas em que a atividade daqueles é sobretudo de construção e
promoção de relações interpessoais de qualidade, e de acolhimento de pessoas em
situação de fragilidade física e emocional, como no campo da saúde, devem
enfatizar o aspeto do acompanhamento psicológico aos seus voluntários. Se em
nenhum aspeto RH é suposto falhar, refuto de muito mas mesmo muito importante o
acompanhamento que referi, na linha da gestão dos sentimentos e do equilíbrio
emocional dos próprios voluntários, e claro, a promoção de medidas nesse
sentido com vista à existência de melhores voluntários e melhor serviço
voluntário às pessoas, nomeadamente no campo da saúde.
Porto,
4 de fevereiro de 2015
João
António Pereira
Presidente
da Federação Nacional de Voluntariado em Saúde
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