sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

DIA MUNDIAL DO DOENTE

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO
PARA O
XXIII DIA MUNDIAL DO DOENTE 
(11 DE FEVEREIRO DE 2015)
«Sapientia cordis.
“Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo” (Jó 29, 15)»
 Queridos irmãos e irmãs,
 Por ocasião do XXIII Dia Mundial do Doente, instituído por São João Paulo II, dirijo-me a todos vós que carregais o peso da doença, encontrando-vos de várias maneiras unidos à carne de Cristo sofredor, bem como a vós, profissionais e voluntários no campo da saúde.
O tema deste ano convida-nos a meditar uma frase do livro de Jó: «Eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo» (29, 15). Gostaria de o fazer na perspectiva da «sapientia cordis», da sabedoria do coração.
1. Esta sabedoria não é um conhecimento teórico, abstrato, fruto de raciocínios; antes, como a descreve São Tiago na sua Carta, é «pura (…), pacífica, indulgente, dócil, cheia de misericórdia e de bons frutos, imparcial, sem hipocrisia» (3, 17). Trata-se, por conseguinte, de uma disposição infundida pelo Espírito Santo na mente e no coração de quem sabe abrir-se ao sofrimento dos irmãos e neles reconhece a imagem de Deus. Por isso, façamos nossa esta invocação do Salmo: «Ensina-nos a contar assim os nossos dias, / para podermos chegar à sabedoria do coração» (Sal 90/89, 12). Nesta sapientia cordis, que é dom de Deus, podemos resumir os frutos do Dia Mundial do Doente. 
2. Sabedoria do coração é servir o irmão. No discurso de Jó que contém as palavras «eu era os olhos do cego e servia de pés para o coxo», evidencia-se a dimensão de serviço aos necessitados por parte deste homem justo, que goza de uma certa autoridade e ocupa um lugar de destaque entre os anciãos da cidade. A sua estatura moral manifesta-se no serviço ao pobre que pede ajuda, bem como no cuidado do órfão e da viúva (cf. 29, 12-13).
Também hoje quantos cristãos dão testemunho – não com as palavras mas com a sua vida radicada numa fé genuína – de ser «os olhos do cego» e «os pés para o coxo»! Pessoas que permanecem junto dos doentes que precisam de assistência contínua, de ajuda para se lavar, vestir e alimentar. Este serviço, especialmente quando se prolonga no tempo, pode tornar-se cansativo e pesado; é relativamente fácil servir alguns dias, mas torna-se difícil cuidar de uma pessoa durante meses ou até anos, inclusive quando ela já não é capaz de agradecer. E, no entanto, que grande caminho de santificação é este! Em tais momentos, pode-se contar de modo particular com a proximidade do Senhor, sendo também de especial apoio à missão da Igreja.
3. Sabedoria do coração é estar com o irmão. O tempo gasto junto do doente é um tempo santo. É louvor a Deus, que nos configura à imagem do seu Filho, que «não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão» (Mt 20, 28). Foi o próprio Jesus que o disse: «Eu estou no meio de vós como aquele que serve» (Lc 22, 27).
Com fé viva, peçamos ao Espírito Santo que nos conceda a graça de compreender o valor do acompanhamento, muitas vezes silencioso, que nos leva a dedicar tempo a estas irmãs e a estes irmãos que, graças à nossa proximidade e ao nosso afeto, se sentem mais amados e confortados. E, ao invés, que grande mentira se esconde por trás de certas expressões que insistem muito sobre a «qualidade da vida» para fazer crer que as vidas gravemente afectadas pela doença não mereceriam ser vividas!
4. Sabedoria do coração é sair de si ao encontro do irmão. Às vezes, o nosso mundo esquece o valor especial que tem o tempo gasto à cabeceira do doente, porque, obcecados pela rapidez, pelo frenesi do fazer e do produzir, esquece-se a dimensão da gratuidade, do prestar cuidados, do encarregar-se do outro. No fundo, por detrás desta atitude, há muitas vezes uma fé morna, que esqueceu a palavra do Senhor que diz: «a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40).
Por isso, gostaria de recordar uma vez mais a «absoluta prioridade da “saída de si próprio para o irmão”, como um dos dois mandamentos principais que fundamentam toda a norma moral e como o sinal mais claro para discernir sobre o caminho de crescimento espiritual em resposta à doação absolutamente gratuita de Deus» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 179). É da própria natureza missionária da Igreja que brotam «a caridade efectiva para com o próximo, a compaixão que compreende, assiste e promove» (Ibid., 179).
5. Sabedoria do coração é ser solidário com o irmão, sem o julgar. A caridade precisa de tempo. Tempo para cuidar dos doentes e tempo para os visitar. Tempo para estar junto deles, como fizeram os amigos de Jó: «Ficaram sentados no chão, ao lado dele, sete dias e sete noites, sem lhe dizer palavra, pois viram que a sua dor era demasiado grande» (Job 2, 13). Mas, dentro de si mesmos, os amigos de Jó escondiam um juízo negativo acerca dele: pensavam que a sua infelicidade fosse o castigo de Deus por alguma culpa dele. Pelo contrário, a verdadeira caridade é partilha que não julga, que não tem a pretensão de converter o outro; está livre daquela falsa humildade que, fundamentalmente, busca aprovação e se compraz com o bem realizado.
A experiência de Jó só encontra a sua resposta autêntica na Cruz de Jesus, ato supremo de solidariedade de Deus para connosco, totalmente gratuito, totalmente misericordioso. E esta resposta de amor ao drama do sofrimento humano, especialmente do sofrimento inocente, permanece para sempre gravada no corpo de Cristo ressuscitado, naquelas suas chagas gloriosas que são escândalo para a fé, mas também verificação da fé (cf. Homilia na canonização de João XXIII e João Paulo II, 27 de Abril de 2014).
Mesmo quando a doença, a solidão e a incapacidade levam a melhor sobre a nossa vida de doação, a experiência do sofrimento pode tornar-se lugar privilegiado da transmissão da graça e fonte para adquirir e fortalecer a sapientia cordis. Por isso se compreende como Jó, no fim da sua experiência, pôde afirmar dirigindo-se a Deus: «Os meus ouvidos tinham ouvido falar de Ti, mas agora vêem-Te os meus próprios olhos» (42, 5). Também as pessoas imersas no mistério do sofrimento e da dor, se acolhido na fé, podem tornar-se testemunhas vivas duma fé que permite abraçar o próprio sofrimento, ainda que o homem não seja capaz, pela própria inteligência, de o compreender até ao fundo.
6. Confio este Dia Mundial do Doente à proteção materna de Maria, que acolheu no ventre e gerou a Sabedoria encarnada, Jesus Cristo, nosso Senhor.
Ó Maria, Sede da Sabedoria, intercedei como nossa Mãe por todos os doentes e quantos cuidam deles. Fazei que possamos, no serviço ao próximo sofredor e através da própria experiência do sofrimento, acolher e fazer crescer em nós a verdadeira sabedoria do coração.
Acompanho esta súplica por todos vós com a minha Bênção Apostólica.
Vaticano, 3 de Dezembro – Memória de São Francisco Xavier – do ano 2014.
 Franciscus


sábado, 3 de janeiro de 2015

VOLUNTARIADO HOSPITALAR EM PORTIMÃO

Nestes tempos de mudanças, tão difíceis para todos, assiste-se a uma maior participação das pessoas para que, com a sua disponibilidade e dedicação, possam contribuir para o bem-estar daqueles para quem as dificuldades já são parte da sua vida há muito tempo.
Receber e transmitir amor é fundamental para o equilíbrio de cada voluntário e nada melhor que vivê-lo nas mais diversas formas.
Chegada a uma fase da vida livre das responsabilidades laborais e com maior disponibilidade de tempo, sentimos necessidade de abraçar novas tarefas.
Tento impor a mim própria uma filosofia de vida onde continuar a ser útil aos outros é também um dos caminhos de realização pessoal.
Sou uma privilegiada por estar ao serviço do voluntariado 
hospitalar – Associação Elos de Esperança no CHA- Unidade de Portimão -, porque me enriquece humanamente dando-me aos outros.
Faz-me crescer a necessidade de aparecer na vida dos outros com um sorriso de esperança, sorriso que valorizo bastante.
Respeito muito, e cada vez mais, a dor alheia. E são tão complexos os caminhos e contornos da dor!
Como dizia Saint-Exupéry, «aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós».
Comemora-se no dia 5 de dezembro o Dia Internacional do Voluntariado. Os dias internacionais servem para trazer temas para a ordem do dia.
Servem para fazer balanços, para valorizar o trabalho de muitos voluntários que constroem o país e a coesão social sem se fazerem notar. Hoje celebra-se esta dádiva: a da entrega gratuita ao outro.
Por curiosidade, na nossa associação, Elos de Esperança, de janeiro a outubro do corrente ano, na Unidade Hospitalar de Portimão, nos diversos serviços hospitalares, os nossos voluntários, totalizaram 21761 horas de trabalho ativo. Em outubro, os 123 voluntários ativos, totalizaram 2178 horas de serviço. Sem dúvida que somos uma gota no oceano.
Mas, como dizia Madre Teresa de Calcutá, sem essa gota o oceano seria bem diferente.
O voluntário é um cidadão com mestrado. Mestrado em generosidade, em paciência, em desprendimento.
Como diz Agustina Bessa Luís, «o voluntariado não é uma ocupação é uma travessia na noite onde se inventa o dia seguinte».
De uma coisa estamos certos, «desta vida nada se leva… a não ser a vida que se leva…só se deixa…; então, deixamos o nosso melhor.…O nosso melhor sorriso…, o nosso maior abraço…, a nossa melhor história…, a nossa melhor intenção…, toda a nossa compreensão e, do nosso amor, a maior porção.
Só queremos ficar na memória de alguém como outro alguém que era do Bem».

Fernanda Teixeira, Presidente da Associação Elos de Esperança / 7 de Dezembro de 2014

Transcrição incompleta a partir de: http://www.barlavento.pt/index.php/noticia?id=62447 / Tribuna Livre